É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).
Um novo olhar para a educação é a chave para combater a violência
Raquel Cunha - 31.mar.2016/Folhapress | ||
Alunos assistem a aula na Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, na zona oeste de São Paulo |
Um respeitado estudo com cerca de 700 crianças provenientes de situações de vulnerabilidade social consideradas de "alto risco", realizado no Havaí (EUA) -acompanhadas ao longo de 60 anos e até hoje-, aponta características daquelas que conseguiram superar as adversidades e reestruturar suas vidas.
Essas crianças foram observadas desde o primeiro ano de vida e depois aos dois, aos dez, aos 18, aos 32 e aos 40 anos de idade. Foram divididos em dois grupos e a expectativa era que o primeiro, com mães em situação de estresse no parto, extrema pobreza, pais alcoólatras e violência doméstica teria mais dificuldades emocionais e de comportamento do que o segundo, de famílias melhor estruturadas e com estabilidade financeira. Porém, o resultado surpreendeu. Um terço das crianças do primeiro grupo tornou-se adulto equilibrado, carinhoso e competente.
O que nos interessa é exatamente o que aconteceu com esse um terço e os fatores que o fizeram "vencedor". E o que explica isso: personalidade, possibilidade de estabelecer algum vínculo afetivo (com pais, avós ou professores) e pertencimento (estar num grupo que o aceita).
Aqui no Brasil, Yvonne Bezerra de Mello trabalha desde os anos 70 principalmente com crianças traumatizadas, tendo excelentes resultados (oito anos nas Escolas do Futuro, no Rio de Janeiro). Aplica a técnica de "gestão em sala de aula". Nessa abordagem, é preciso respeitar o tempo de concentração de cada aluno, sua faixa etária, compreender seus traumas, pois muitos são submetidos a tantas violências que não conseguem brincar, aprender.
A autoestima e a aceitação são os pilares, se quisermos recuperar as nossas crianças que hoje vivem em condições de "alto risco". Os CEUs, em São Paulo, foram criados para desempenhar esse papel. A próxima conquista paulistana deveria ser um maciço investimento no professor, pois ele é peça chave para a formação do vínculo e da aprendizagem; em condições de trabalho e também na melhoria da infraestrutura escolar.
Se uma criança que foi "ficando para trás" chega, digamos, à 6ª série do Ensino Fundamental sem estar devidamente alfabetizada e sem os conteúdos suficientemente compreendidos para que possa se desenvolver, vira um excluído na sala de aula e não deixa o professor ensinar. Não será difícil se enturmar, mais na frente, com maus elementos. Fazer parte de um grupo, qualquer grupo, é fundamental para enfrentar o mundo. Não tendo lar estruturado, a escola tem que exercer esse papel, antes que o crime lhe forneça a "valorização".
São Paulo tem todas as condições de atuar junto aos professores de forma tão revolucionária quanto foram os CEUs.
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