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matias spektor

 

19/09/2012 - 03h00

Dilma multilateral

Dilma chega a Nova York para a Assembleia-Geral das Nações Unidas, onde tudo indica que nossa política multilateral terá um futuro em fogo brando. A retração talvez seja bem-vinda.

Membro rotativo do Conselho de Segurança da ONU durante quatro dos últimos dez anos, o Brasil teve de tomar posição a respeito de Iraque, Sudão, Guiné-Bissau, Irã, Líbia e outros temas espinhosos que, em condições normais, quiçá preferisse ignorar.

No comando da missão da ONU no Haiti, precisou custear uma enorme operação. Teve de aprender métodos e procedimentos que antes desconhecia, foi forçado a usar a força e precisou angustiar a morte trágica de brasileiros.

A política externa também se dedicou a desarmar uma gambiarra: a ideia de ampliar o Conselho de Segurança incorporando apenas os dois grandes contribuintes da instituição, Alemanha e Japão. Junto à Índia, o Brasil precisou meter o pé na porta para mantê-la aberta.

Passados dez anos de relativo ativismo, a calmaria da atual conjuntura pode ser útil para fazer ajustes necessários.

Afinal, o Brasil ainda está longe de tirar vantagens máximas do sistema multilateral ou mesmo de contribuir para ele na medida de suas possibilidades.

Por exemplo, não há uma estratégia para pôr brasileiros em cargos relevantes no secretariado da ONU. Apenas cem nacionais lá exercem funções executivas (não administrativas), enquanto a Argentina, mais fraca e pobre, conta com 128 e a Alemanha, com 430.

Reverter o quadro não envolveria custos adicionais, mas a criação de mecanismos para caçar talentos, treiná-los e ir para a briga por bons postos.

Tampouco há um sistema funcional de inteligência capaz de alimentar o trabalho de diplomatas brasileiros em temas de paz e guerra.

Embora seja irrealista esperar que a Abin cumpra essa função sozinha, é plausível imaginar trabalho em parceria com nossos militares e diplomatas para garimpar as informações sem as quais é difícil ter voz ativa em temas da segurança coletiva.

A maré baixa também poderia ser utilizada para reavaliar o pleito brasileiro pelo assento permanente no Conselho de Segurança.

Embora uma reforma do Conselho de Segurança nos próximos anos seja utópica, não é maluco imaginar que o tema volte à superfície em algum momento.

Reino Unido e França, em declínio acelerado, podem contemplar uma reforma que lhes permita manter a posição e, de quebra, ganhar mais um voto europeu com a entrada da Alemanha. A China pode discutir uma reforma na qual o Japão fique de fora.

No dia em que o tema da reforma ressurgir, será importante mostrar ao mundo que o pleito brasileiro, além de desejado, é evidentemente merecido.

Ainda estamos longe disso. Muitos países têm dúvidas genuínas, mesmo dentre os simpatizantes.

Há recursos humanos e materiais para chegar lá.

Basta ter coragem para revisitar velhos argumentos e inspecionar de perto os métodos que podem ter sido úteis no passado recente, mas talvez não o sejam mais.

matias spektor

Matias Spektor ensina relações internacionais na FGV. É autor de 'Kissinger e o Brasil'. Trabalhou para as Nações Unidas antes de completar seu doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi pesquisador visitante no Council on Foreign Relations, em Washington, e em King's College, Londres. Escreve às quartas, a cada duas semanas.

 

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