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matias spektor

 

17/04/2013 - 03h00

Progresso silencioso

O governo norte-americano começa a preparar um possível encontro entre Dilma e Obama.

Na perspectiva de Washington, isso é bom porque o relacionamento bilateral vem avançando positivamente.

Longe dos holofotes e sem alarde, as duas diplomacias têm encaminhado pendências em temas como comércio, investimento e tributação.

Em silêncio, dissiparam o mal-estar característico dos últimos meses do governo Lula e avançaram em novas áreas: a Casa Branca considerou a postura de Dilma diante da sucessão presidencial venezuelana como "excelente" e não apenas entende, como aprecia, o modo brasileiro de lidar com Cuba. Acha que conversar reservadamente com o Brasil sobre África e Oriente Médio é útil, não mera formalidade.

O avanço mais palpável talvez seja na área de cooperação naval. Almirantes dos Estados Unidos são, na capital americana, os defensores mais influentes da ideia de um Brasil em ascensão.

Nada disso significa que a relação esteja atravessando uma lua de mel. Há fricções de baixa intensidade que não vão desaparecer e sérios problemas de percepção mútua.

A diplomacia americana é tão orgulhosa quanto a brasileira e frustra-se cada vez que, em foros multilaterais ou grandes encontros Sul-Sul, Brasília dialoga ou coopera com Washington em privado, mas a esbofeteia em público.

Idem para o argumento da Esplanada segundo o qual a política monetária americana seria causa de todo mal --proposição sem amparo nas análises econômicas mais sérias.

Mas o avanço é inegável, graças ao trabalho de bastidor das duas diplomacias.

O próximo encontro poderá render excelentes frutos. Como Dilma tem a agonia de quem precisa vencer uma corrida eleitoral, enquanto Obama tem a flexibilidade do último mandato, as condições são boas para o Brasil pedir concessões e levar.

Isso importa porque Obama receberá, neste ano, boa parte dos líderes das chamadas Aliança do Pacífico e da Parceria Transatlântica, as duas iniciativas comerciais mais importantes dos últimos tempos. Juntas, elas pretendem destravar o comércio internacional. Representam, no entanto, um duro golpe contra os pilares da estratégia comercial brasileira, Mercosul e Organização Mundial do Comércio.

Em uma conjuntura na qual há muita coisa em jogo, é crucial que o governo brasileiro monte uma visita presidencial possante.

Possante de verdade.

Imagine Dilma no Congresso dos EUA, onde há inédita boa vontade porque senadores e deputados disputam investimentos brasileiros.

Imagine uma campanha de marketing para promover a marca Brasil antes da viagem, método simples e barato que nunca foi testado.

Imagine uma presidente que encontra representantes dos mais de 2,5 milhões de brasileiros que moram nos Estados Unidos, força que todo mundo ignora.

Imagine o anúncio da política de conteúdo local do pré-sal em coletiva para a imprensa internacional antes da reunião no Salão Oval.

O progresso silencioso dos últimos dois anos criou as condições para avançar. Pé no acelerador.

matias spektor

Matias Spektor ensina relações internacionais na FGV. É autor de 'Kissinger e o Brasil'. Trabalhou para as Nações Unidas antes de completar seu doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi pesquisador visitante no Council on Foreign Relations, em Washington, e em King's College, Londres. Escreve às quartas, a cada duas semanas.

 

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