É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.
Natalinas
Dois presentes fazem a alegria de quem acompanha as relações internacionais do Brasil.
Começou a circular pela rede o primeiro "Atlas da Política Externa Brasileira", um esforço de apresentação de dados complexos de forma clara, simples e com o apelo estético da cartografia. A publicação é do grupo de pesquisa Labmundo.
Há ali mapas e fluxogramas sobre a formação do Estado brasileiro que remontam à Guerra do Paraguai, ao tráfico de escravos e à negociação das fronteiras nacionais.
A publicação oferece gráficos sobre a evolução do orçamento das Forças Armadas e sobre a projeção global da cultura brasileira. Aprende-se ainda sobre a performance global de nossos esportistas e sobre o papel do país no comércio internacional de jogadores de futebol.
O Atlas não se limita ao Executivo. Há mapas sobre o papel internacional do Legislativo, de Estados e municípios, movimentos sociais, igrejas e redes acadêmicas.
Na parte referente à América do Sul, o trabalho apresenta sem firula o problema fundamental: a assimetria de poder entre o Brasil e seus vizinhos que tanto dificulta a integração regional.
O segundo presente também diz respeito à disponibilidade de dados quantitativos e qualitativos sobre as relações exteriores do Brasil contemporâneo.
Trata-se do esforço da diretoria internacional do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com uma bateria de novas publicações, entre as quais merece destaque o "Boletim Internacional".
A qualidade dos materiais publicados é variada, mas a contribuição do Ipea para a área vem sendo muito significativa. Isso ocorre porque o estudo da política externa brasileira clama por graus cada vez maiores de sofisticação empírica e metodológica.
Fato é que o grosso da condução da diplomacia ainda é feito no escuro, sem dados concretos e avaliações bem feitas sobre o choque de interesses e de valores que caracteriza nossa sociedade e a vincula a dinâmicas internacionais.
A maior parte do tempo, a definição do chamado "interesse nacional" é caprichosa e tentativa, não profissional nem precisa. Faltam bons estudos aprofundados em quase todas as áreas de atuação.
Sem insumos de qualidade, a formulação da política externa sofre. Também fica à mercê do governo de plantão.
No passado, o custo disso podia ser relativamente baixo.
No presente, é muito alto. Iniciativas como as do Atlas e do Boletim do Ipea apontam o caminho para um futuro melhor.
Falando em futuro, o Itamaraty repaginou seu site na internet, que ganhou coisas novas. Continua, porém, gerando perplexidade geral sem versão em inglês ou espanhol.
Também foram apagadas as "Notas à Imprensa" dos anos anteriores ao governo Dilma. Essas notas são o registro sintético mais útil e fácil de acessar das posições brasileiras em temas-chave da agenda internacional.
Elas têm o valor adicional de oferecer versão em língua estrangeira.
Se o ministério trouxesse o material de volta ao site, daria ao público um ótimo presente de Natal.
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