É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.
Presidente Dilma vai procurar Condoleezza mais uma vez
Na próxima quarta, dia 1º, Dilma almoçará na Califórnia com Condoleezza Rice.
Da última vez que se encontraram, há quatro anos, a presidente interrompeu o jantar que dividiam para fazer um gesto inusual: "Condoleezza, quero agradecer muito o apoio que você deu ao governo do presidente Lula".
Condoleezza fora assessora de segurança nacional e secretaria de Estado de George W. Bush. Ao lado do presidente, tivera papel central na decisão de ir à guerra no Iraque e no Afeganistão.
Entretanto, Dilma tinha bons motivos para agradecer.
Quando o PT foi eleito à Presidência, em 2002, o governo americano ficou dividido: uma ala do partido Republicano enxergava em Lula uma ameaça, enquanto outra ala estava disposta a dar ao futuro ocupante do Planalto o benefício da dúvida.
Quem dirimiu a questão foi Condoleezza, redobrando a aposta em Lula e tranquilizando a base republicana.
Ela defendia a tese segundo a qual Lula fora eleito num pleito limpo e se comprometera com os princípios de mercado; portanto, Bush devia estender-lhe a mão.
No entanto, ela tinha consciência de quão difícil seria montar uma parceria entre a direita americana e a esquerda brasileira. Na ocasião, disse a Bush: "Presidente, o Brasil vai demandar um trabalho diplomático cuidadoso e persistente".
O principal desafio dela era encontrar um interlocutor em Brasília. Sem alguém capaz de funcionar como referência do lado brasileiro, a parceria entre os dois governos jamais decolaria.
À época, quem cumpriu essa função foi o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Condoleezza precisava de Dirceu porque queria evitar a formalidade artificial que transforma a relação entre dois países numa interposição de dois monólogos.
Condoleezza e Dirceu conseguiram fazer a parceria avançar, sem com isso demandar concordância plena. Ao contrário, discordaram sobre quase tudo. Mas o desacordo era às claras, evitando surpresas e mantendo o foco nas áreas de coincidência.
Lula e Bush imitaram o estilo direto dos assessores. Quando Condoleezza publicou artigo denunciando os abusos de Hugo Chávez, Lula telefonou para Bush para reclamar. "Se vocês querem tranquilidade na Venezuela", disse Lula a Bush, "estou disposto a ajudar. Agora, a cada vez que a Condoleezza bate no Chávez, ele tem um bom pretexto para fazer uma passeata contra vocês!" Os artigos dela cessaram.
Semana que vem, na Califórnia, Dilma terá a oportunidade de refletir sobre aquele passado recente.
A presidente poderá concluir que a guinada esperada na relação com os EUA neste segundo mandato, se for mesmo acontecer, demandará que Planalto e Casa Branca identifiquem uma dupla com a autoridade necessária para discutir e negociar.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade