Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor

Proposta de intervenção estrangeira na Venezuela é estapafúrdia

Crédito: Presidencia de Venezuela/Xinhua (171210) -- CARACAS, diciembre 10, 2017 (Xinhua) -- Imagen cedida por la Presidencia de Venezuela, del presidente venezolano, Nicolás Maduro, mostrando su voto durante las elecciones municipales, en el Liceo Miguel Antonio Caro, en Caracas, Venezuela, el 10 de diciembre de 2017. El presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, exhortó a la población a votar en las elecciones municipales que se desarrollan el domingo para elegir a los 335 alcaldes de esta nación suramericana. El jefe de Estado venezolano, quien defendió que Venezuela es un país "campeón mundial de libertad (y) de democracia", invitó, además, a todas las fuerzas del chavismo a movilizarse durante esta contienda electoral. (Xinhua/Presidencia de Venezuela) (bv) (rtg) (ah) ***NO ARCHIVO-NO VENTAS*** ***SOLO USO EDITORIAL***
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro

O professor de Harvard e ex-ministro de Planejamento da Venezuela Ricardo Hausmann sugere em artigo nesta Folha uma ação militar contra o regime chavista. Segundo a proposta, a Assembleia Nacional, hoje liderada pela oposição e combatida por Nicolás Maduro, convidaria uma intervenção estrangeira para restaurar a democracia, a partir da criação de um novo governo.

Por três motivos distintos, a proposta é estapafúrdia.

O primeiro diz respeito às alternativas reais de poder.

Durante os últimos 12 meses, Maduro aumentou os componentes autoritários de seu governo com grande êxito. Em que pese o estado da economia venezuelana, o regime goza hoje de hegemonia nas Forças Armadas e nas instituições de Estado.

A oposição está acuada, exilada ou presa, e as próximas eleições tendem a ser manipuladas. Além disso, a oposição está dividida. Não há um governo alternativo pronto para substituir o atual em caso de mudança forçada.

O segundo motivo é geopolítico. Não há chance de uma intervenção ser liderada ou coordenada pelos países da América do Sul.

Ao contrário, a reação deles a uma proposta dessas seria contundente, cerrando fileiras contra o uso da força na sua vizinhança, especialmente se a intervenção não contar com a anuência do Conselho de Segurança da ONU, tal qual propõe Hausmann. Sem apoio regional significativo, qualquer interventor perderia alavancagem política e alienaria sua posição junto aos latino-americanos por uma geração. Não se trata de opção viável para Estados Unidos ou Europa.

O terceiro motivo diz respeito à legalidade e à legitimidade de tal intervenção.

Há precedentes de intervenções militares a convite de governos constituídos –Afeganistão, Iêmen, Iraque etc. No entanto, o embate jurídico no caso venezuelano seria furibundo porque não há consenso de que a Venezuela represente uma ameaça à paz e à segurança internacionais, apesar da miséria humanitária que aflige a população.

Além disso, as primeiras denúncias contra a alta cúpula do governo por supostos crimes contra a humanidade e genocídio apenas chegaram ao Tribunal Penal Internacional em finais de 2017, e o secretário-geral da OEA acaba de criar um painel de investigação. De quebra, a última intervenção militar em favor de um grupo opositor –Líbia, 2011– foi um desastre. Não existe precedente bom.

A Venezuela encontra-se em seu pior momento, mas ir à guerra contra o chavismo no que seria a primeira intervenção na América do Sul no século 21 não é solução.

Há alternativas para lidar com o problema que não trazem o risco embutido de uma aventura militar questionável e de resultado incerto.

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