painel das letras
por Maurício Meireles
Maurício Meireles é jornalista especializado na cobertura de literatura, mercado editorial e políticas de livro e leitura. Escreve aos sábados.
Bazar da Cosac Naify já tem data, mas não terá 'descontos agressivos'
A Cosac Naify marcou para de 17 a 19 de dezembro, das 13h às 20h, no Centro Cultural b_arco, o bazar para iniciar a venda de seu estoque –mas sem "descontos agressivos", avisa a empresa. A casa já pediu às livrarias que, a partir de janeiro, devolvam tudo o que estiver em consignação. De todo modo, esta é só uma das questões que a editora vai precisar enfrentar. O clima no mercado ainda é de incerteza. Há dúvidas sobre como os direitos autorais serão pagos depois de janeiro, quando a equipe estará demitida. Charles Cosac diz que manterá um grupo "de cinco a sete pessoas" para cuidar disso.
Ele afirma ainda que tradutores, revisores e preparadores com trabalhos em curso podem terminar suas tarefas e que vai pagá-los por isso. O futuro dos livros contratados –centenas, segundo ele– também é incerto. Ainda é vista com ceticismo a possibilidade de a casa repassá-los a outras editoras até o fim do mês, quando a Cosac fecha as portas. Do ponto de vista jurídico, só o catálogo completo poderia ser vendido.
ENQUANTO ISSO...
O fechamento da Cosac Naify deve provocar problemas no vestibular da Unicamp em 2016. A universidade havia incluído "Poemas Negros", de Jorge de Lima, entre as leituras obrigatórias.
"Acho inviável que eles negociem com outras editoras o repasse de tantos livros", observa Lucia Riff, agente que representa a obra do autor, de quem a Cosac vinha lançando as obras completas.
Procurada, a Unicamp afirma que por ora não pensa em tirar a obra da lista.
Entre outros livros que ficam com futuro incerto estão o novo romance de João Anzanello Carrascoza, cujos direitos foram comprados semana passada; o romance "O Sul", de Veronica Stigger, que estava programado para janeiro; e a biografia de Susan Sontag, que está sendo escrita pelo americano Benjamin Moser e teve os direitos comprados há quatro anos.
"Não se fecha uma editora desse jeito. Acabei de renovar o contrato de toda a obra do Faulkner também", diz Lucia.
Divulgação | ||
Quiosque no bairro de Santa Teresa |
Quiosque do Rio de Janeiro no século 19, antepassado dos botecos da cidade, em foto de 'Memória Afetiva do Botequim Carioca', lançado pela José Olympio.
O LIVRO DO DESASSOSSEGO
A Globo Livros comprou os direitos de "Ana de Amsterdam", antologia de textos do blog homônimo, de autoria da moçambicana residente em Portugal Ana Cássia Rebelo. A obra, a ser lançada por aqui em 2016, é uma das apostas do selo Biblioteca Azul.
Descrita como uma espécie de Sylvia Plath lusa, Ana Cássia saiu este ano pela portuguesa Quetzal. A autora, que é advogada, começou a escrever o diário íntimo on-line em 2006 e virou sucesso entre a crítica portuguesa. O nome de seu blog vem da canção de Chico Buarque.
Com uma escrita melancólica, Ana Cássia relata em prosa poética os episódios de sua vida como profissional e mãe. A autora chegou à Globo Livros por indicação da editora Maria Emilia Bender, que já havia publicado textos dela na revista "piauí".
Agência A escritora Carol Rodrigues, estreante que levou os prêmios Jabuti (na categoria contos) e da Biblioteca Nacional neste ano, passa a ser representada pela agente literária Marianna Teixeira Soares.
Chefe O escritor e tradutor Daniel Pellizzari, da antiga Livros do Mal, é o novo editor-executivo da Estação Liberdade. Contratado pelo diretor editorial Angel Bojadsen por sua experiência com tradução, Daniel já começa nesta segunda (7).
China A Companhia das Letras comprou os direitos do livro de memórias de Ai Weiwei, no qual ele conta cem anos da história da China a partir de sua trajetória e da vida de seu pai, um dos poetas chineses mais importantes do século 20 e amigo íntimo de Mao Tse-tung. O livro sai no exterior só em 2017.
Livro do mal A Darkside comprou em "pre-empt", jargão do mercado para quando uma editora faz um lance para evitar que um título vá a leilão, o romance "HEX", do holandês Thomas Olde Heuvelt. O livro é uma história de terror contada por mensagens de celular.
Desafio Estevão Azevedo, ganhador do Prêmio São Paulo com "Tempo de Espalhar Pedras", lança a novela "Nenhum Olho Me Verá", pelo selo Jota, da e-galáxia, que trata da filha de um pastor dividida entre a ciência e a religião.
Desafio 2 O selo é inspirado no grupo Oulipo, corrente literária de escritores e matemáticos que propunha desafios de escrita. O primeiro capítulo da novela de Estevão, por exemplo, não usa a letra A a partir de certo ponto. Os outros capítulos repetem desafios formais do tipo.
Livraria da Folha
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