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maurício stycer

 

23/12/2012 - 03h03

Vendo 'Homeland' sem 'baixar'

DE SÃO PAULO

O desenhista André Dahmer, autor da tirinha "Malvados", publicada aqui na Folha, observou recentemente: "O cara me escreve pedindo 'permissão' para publicar uma tirinha no blog dele. Ele tem mais de 40 anos, certeza".

Percebo algo semelhante na reprodução do trabalho que realizo em meu blog, no UOL e nesta coluna na Folha. Os raros e-mails pedindo autorização para republicar um texto vêm sempre de autores de blogs pessoais, amadores, administrados por gente mais velha.

Com muita frequência, porém, sem que eu seja consultado a respeito, textos meus são reproduzidos por blogs e, não raro, por sites comerciais --às vezes dando crédito ao autor, muitas vezes nem isso.

Dahmer foi muito feliz na constatação de que existe uma questão geracional na apropriação do trabalho intelectual. Para as novas gerações, na verdade, não parece mesmo haver um problema em reproduzir sem autorização textos ou desenhos alheios.

Esse comportamento é uma extensão do hábito de "baixar" música e séries de televisão sem pagar nada por isso. O que para mim é inaceitável é considerado normal por amigos e conhecidos mais jovens.

Tenho uma confissão a fazer: nunca "baixei" um filme ou um seriado sem pagar. Faço essa observação sem orgulho, nem vontade de chocar os mais jovens. Simplesmente porque, hoje, essa restrição que me imponho causa algumas limitações ao trabalho.

No último domingo (16), por exemplo, foi exibido nos Estados Unidos o 12º episódio de "Homeland", o derradeiro da segunda temporada da badalada série. No Brasil, o canal pago FX exibiu no mesmo dia o nono episódio.

Na segunda (17), fãs brasileiros do seriado já discutiam o desfecho da trama nas redes sociais. Alguns ainda buscavam informações sobre onde "baixar" as melhores legendas em português para ver o programa.

Evitei ler "spoilers", mas confesso que fiquei com inveja daqueles que, desde a segunda-feira, já saboreavam o final de "Homeland". Ainda terei que esperar três semanas para saber o destino de Carrie, Brody & Cia.

Para reduzir a tentação do público de piratear as séries americanas de maior sucesso, algumas empresas estão tomando medidas inteligentes. A HBO, por exemplo, exibe os episódios inéditos de duas de suas séries mais populares, "True Blood" e "Game of Thrones", simultaneamente nos Estados Unidos e no Brasil.

Diferentes empresas estão se colocando no mercado como locadoras ou vendedoras oficiais e on-line de filmes e séries. Os preços deveriam ser mais baixos, mas não chegam a ser absurdos. A mais recente temporada de uma série de sucesso como "Mad Men", por exemplo, custa cerca de US$ 35 (R$ 70), ou US$ 3 por episódio.

Para quem, como eu, acompanha profissionalmente o mercado de televisão, atrapalha um pouco não dispor de todos os programas que desejo ver, como os últimos episódios de "Homeland". Mas ainda acho preferível esperar algumas semanas do que recorrer à pirataria. Como dá para imaginar, tenho mais de 40 anos. Muito mais.

Nesta semana, ao saberem que o Instagram pretendia ter o direito de comercializar as fotos de todos os usuários do serviço, vi muitos jovens se revoltarem. A decisão já foi revista, mas talvez tenha sido um episódio educativo, que os ajude a não me enxergar como um dinossauro.

mauriciostycer@uol.com.br
@mauriciostycer

maurício stycer

Maurício Stycer é jornalista, repórter e crítico do portal UOL, autor de 'História do Lance!' (Alameda Editora). Escreve aos domingos.

 

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