É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
Escreve aos domingos.
Um setor sob pressão
Apesar das especificidades de cada mercado, o setor de TV por assinatura é o que mais tem sofrido pressão, em todo mundo, diante do crescimento das possibilidades oferecidas pela revolução digital.
Estabelecido já há décadas, com base em duas tecnologias principais (cabo e satélite) e na venda de "pacotes" com mix de conteúdos (canais variados), o setor se vê questionado em diferentes frentes.
O "inimigo" mais visível é o streaming, ou seja, a possibilidade de consumir conteúdos audiovisuais via internet e por um preço bem mais razoável. Diferentes empresas têm apostado nesse caminho –e a Netlfix é a principal delas.
Um estudo divulgado na semana passada causou algum alvoroço ao mostrar que o número de assinantes da Netflix nos EUA superou o total de clientes de TV a cabo no país.
Comparando dados do primeiro quadrimestre de 2016 com período igual de 2017, os dados mostram que as operadoras de TV a cabo caíram de 49,11 milhões para 48,61 milhões de clientes, enquanto a provedora de conteúdo on-line saltou de 46,97 milhões para 50,85 milhões de assinantes.
Ainda que altamente simbólica, a estatística distorce a visão do mercado ao não incluir, do lado do setor de TV paga, os clientes de TV via satélite ou por outras tecnologias. No total, estima-se haver hoje nos EUA cerca de 95 milhões de domicílios com algum tipo de TV paga. O pico, alcançado em 2011, foi de 100,9 milhões.
No Brasil, o setor afirma não ver como rivais serviços como a Netflix e enxerga a crise econômica como principal motivação dos "cortadores de cabo". Perto de chegar em 20 milhões de assinantes no final de 2014, ele começou a cair em 2015 e não parou mais (veja quadro).
Divulgados há poucos dias, os números relativos a abril apontam um tombo considerável –uma perda de 171 mil clientes em apenas um mês. De 18,93 milhões de assinantes em março, regrediu-se para 18,76 milhões, um encolhimento de quase 1%.
O número de abril era aguardado com alguma ansiedade por ser o primeiro que mediria o possível impacto da saída, ocorrida nos últimos dias de março, de Record, SBT e RedeTV! do cardápio das principais operadoras em São Paulo e Brasília.
Uma análise detalhada dos números, porém, não permite concluir muita coisa. O percentual de perda de clientes nessas duas cidades não foi muito diferente do registrado em outros locais, onde os sinais das três emissoras que formam a Simba Content permanecem disponíveis.
Ainda que o setor de TV por assinatura minimize os efeitos tanto da Netflix quanto do conflito com a Simba, mais empresas estão enxergando possibilidades de negócios à margem desse sistema estabelecido.
Na semana passada, um dos principais produtores de conteúdo da televisão, a HBO, anunciou que vai oferecer o seu cardápio desvinculado de pacotes de TV por assinatura em toda a América Latina ainda em 2017. Nem a data exata em que o serviço será implantado no Brasil nem o preço foram informados.
Nos EUA, esse serviço da HBO custa US$ 14,99 (cerca de R$ 50) por mês. Aqui, segundo o comunicado à imprensa, será cobrado "aproximadamente equivalente ao valor de aquisição de um pacote dos canais HBO/MAX em um serviço de assinatura de TV a cabo".
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