Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Nova CEO da CNN precisa convencer público que não se aproxima de Bolsonaro

Movimentações no canal, que já tentou se mostrar imparcial, levantam dúvidas sobre proximidade com o governo

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Entre os empresários que ovacionaram o presidente Jair Bolsonaro em jantar recente em São Paulo, três representavam grupos de comunicação: Rubens Menin, principal acionista da CNN Brasil, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, presidente da Jovem Pan, e José Roberto Maciel, CEO do SBT.

O registro é relevante porque o encontro buscava promover uma reaproximação do presidente com fatias do empresariado.

Segundo a reportagem da Folha, um dos presentes, que não quis ter o nome divulgado, contou que Bolsonaro foi “aplaudido efusivamente” após discursar. Na sua fala, segundo relatos, se comprometeu com a imunização da população contra a Covid-19.

Ainda que com graus diferentes de entusiasmo, Jovem Pan e SBT são veículos abertamente simpáticos ao governo, e não escondem isso. Por isso, a presença de seus representantes no jantar com o presidente não surpreendeu.

O mesmo não se pode dizer da CNN Brasil. Lançado em 15 de março de 2020, o canal de notícias fez um enorme esforço, desde o princípio, para convencer o público e o mercado de que era um veículo pluralista, crítico e imparcial.

Quando completou um ano, escrevi nesta coluna: “A maior desconfiança, de que o canal foi criado para ser um braço de apoio do bolsonarismo, não se confirmou”.

E acrescentei: “Com os âncoras mais à vontade e uma pauta mais sensível à horrorosa gestão federal da pandemia, não acho que caiba a pecha de governista ao canal. Record, SBT e RedeTV! puseram o sarrafo num ponto muito alto”.

Apenas dez dias depois, em 25 de março, Rubens Menin enviou uma mensagem a todos os funcionários da CNN comunicando que o jornalista Douglas Tavolaro, idealizador do canal e CEO, estava deixando a empresa.

Sem dar mais detalhes, o empresário comunicou que Tavolaro iria se dedicar a projetos editoriais nos Estados Unidos e que vendeu a sua participação na companhia, que agora pertence integralmente à família Menin.

Eu havia estado com Tavolaro duas semanas antes para fazer uma entrevista para o UOL sobre o primeiro ano da CNN Brasil. O executivo pareceu animadíssimo. Estava feliz com o que o canal havia alcançado até então e estimulado com as perspectivas de futuro no curto prazo.

Dois homens brancos usam roupa formal preta e aparecem entre letreiro grande, onde está escrito "CNN"
(São Paulo - SP, 25/11/2020) Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante visita à sede da CNN Brasil, em 25 de novembro de 2020 ( Foto: ) - Alan Santos/PR

Menin foi um dos poucos empresários que falaram abertamente com jornalistas após o jantar com Bolsonaro, em 7 de abril. Ouvido pelo O Estado de S. Paulo, ele disse: “Foi uma conversa boa, eu gostei, me deu tranquilidade”.

Segundo o dono da CNN, que também é proprietário da MRV Engenharia e do banco Inter, não houve questionamentos sobre atitudes polêmicas ou intempestivas do presidente: “Foi uma conversa de alinhamento, não de confusão”.

Nesta terça-feira (13), o empresário comunicou a contratação da jornalista Renata Afonso como CEO da CNN Brasil. Nome pouco conhecido no mercado nacional, Afonso era havia 14 anos CEO da TV TEM, afiliada da Globo em Sorocaba, em São Paulo.

Fundada pelo empresário J. Hawilla (1943-2018), envolvido no escândalo de corrupção da Fifa, a TV TEM está presente em 318 municípios no estado.

Na mensagem aos funcionários do canal, Menin observou: “Vale ressaltar que Renata está alinhada com os valores do nosso Conselho Editorial, baseados na independência e na ética, que caracterizam a CNN no mundo todo”.

A primeira missão da nova CEO, creio, será convencer o espectador de que a CNN Brasil não tem planos de se engajar na rede de mídia governista.

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