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mirian goldenberg

 

31/07/2012 - 03h05

O direito de ser pai

DE SÃO PAULO

Em homenagem ao Dia dos Pais, eu retomo aqui algumas das ideias que já defendi anteriormente nesta Folha, como a minha perplexidade diante da lei em vigor sobre a licença-paternidade.

Como se pode acreditar que apenas cinco dias são suficientes para que o pai cuide do recém-nascido, enquanto a licença-maternidade é aplicada por quatro meses?
Cuidar de um bebê é muito mais do que garantir a ele o aleitamento materno.

Os meses iniciais de contato são necessários para que tanto o pai quanto a mãe estabeleçam com a criança o vínculo afetivo que será fundamental ao seu desenvolvimento emocional e social.

É fácil perceber que muitos homens são impedidos de exercer plenamente a paternidade, já que as mulheres são percebidas como as legítimas detentoras do saber nesse domínio.
Elas são consideradas as únicas figuras realmente necessárias no momento inicial de vida, cabendo ao pai, quando muito, a função de "ajudar" a mãe.

Muitas mulheres vivem a maternidade como um poder que não querem compartilhar. Nesses casos, elas tratam os homens como meros coadjuvantes -ou até mesmo figurantes- em um palco em que a principal estrela é a mãe e, depois, as avós, as tias, as babás e as empregadas domésticas.

Limitados a um papel secundário, os pais ainda são acusados de imaturos, ausentes, irresponsáveis e incompetentes quando não "ajudam" no cuidado do filho e nas atividades domésticas.

A antropologia ensina que é quase impossível transformar uma realidade social considerada "natural".

A ideia instalada de que existe uma natureza feminina destinada à maternidade tem sido utilizada para justificar o papel privilegiado da mulher e para marginalizar o homem da relação afetiva com a criança.

Não existe nada na "natureza" masculina que impeça um pai de cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu filho.

Assim como não há uma "natureza" feminina que dê à mulher a autoridade de se afirmar como a única capaz de cuidar de um bebê.

Se as crianças aprenderem que o pai e a mãe podem ser igualmente disponíveis, atenciosos, responsáveis, protetores, presentes e amorosos, é possível que, em um futuro próximo, exista uma maior igualdade entre homens e mulheres e a crença de que em nenhum domínio (público ou privado) um dos gêneros é superior ou mais necessário do que o outro.

mirian goldenberg

Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade' (Ed. Record). Escreve às terças, a cada 15 dias.

 

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