É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.
Muito prazer, nós somos os Coroas
Muitos me perguntam por que não escrevo sobre os aspectos negativos do envelhecimento. A resposta mais óbvia é que os homens e as mulheres que tenho pesquisado falam muito mais dos lados positivos desta fase da vida.
Gosto de dar o exemplo da minha amiga Nesi, de 90 anos, que, depois de ficar viúva, decidiu trocar o sofá da sala.
"Meu sofá era muito confortável, um estímulo a ficar nele o dia inteiro assistindo televisão. Troquei por um sofá duro como uma pedra. Sento nele e imediatamente levanto, de tão desconfortável. Saio todos os dias bem cedo, caminho, faço hidroginástica, vou ao cinema e ao teatro, sozinha ou com minhas amigas. Só volto para casa para ver a minha novelinha".
Em um encontro que promovi com mulheres de 50 a 90 anos, quando as mais jovens começaram a reclamar de dores nas costas, nos joelhos e de engordarem facilmente, Nesi, com seu corpo magro e ágil, disse:
"Não se preocupem, minhas queridas. Tudo isso passa com a idade. Vocês vão aprender a administrar as dores e a conviver com estes problemas. O mais importante é ter energia e vontade de fazer as coisas e não dar muita atenção a bobagens".
Outro exemplo é o de Thaís, minha aluna na Casa do Saber. Com mais de 90 anos ela sobe sozinha as escadas da casa, anota tudo o que falo nas minhas aulas e depois me agradece pelo aprendizado. Ela curte e comenta todos os textos e fotos que posto no Facebook.
Recentemente, conheci Jorgete, de 87 anos, e seu marido Wilson, de 92 anos. Ela estava tocando piano em um supermercado. Fiquei muito emocionada ao observar suas mãos leves e elegantes tocando músicas clássicas, tangos, chorinhos, bossa-nova, MPB, sem a ajuda de qualquer partitura. Wilson toca pandeiro em um grupo com músicos de mais de 80 anos e adora sair para dançar todas as semanas.
Por tudo o que aprendi com estes belos velhos, decidi montar a minha banda que batizei de Coroas. Coroas é muito mais do que um projeto musical. É um projeto de vida. Queremos mostrar que a velhice pode ser reinventada todos os dias, com significado, prazer, alegria e muito humor. Queremos derrubar os estereótipos e preconceitos que cercam a velhice e mostrar que hoje, mais do que nunca: velho é lindo! Viva a bela velhice!
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