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moisés naím

 

19/10/2012 - 03h00

O que Chávez herda de Chávez

O que a Venezuela tem pela frente após a vitória de Hugo Chávez? Quatro grandes temas vão dominar a atenção do governo e do país.

A economia. O presidente Chávez inicia seu novo mandato com uma economia devastada pelas políticas que ele próprio implantou.

A inflação é a mais alta do mundo, a taxa de câmbio e as reservas internacionais do país estão em queda livre.

As importações, embora tenham aumentado cinco vezes desde 2003, não conseguem suavizar o desabastecimento crônico.

A produção petrolífera está em queda e as refinarias estão explodindo.

As distorções atingiram níveis que dentro em breve vão obrigar o presidente a tomar as decisões econômicas mais difíceis e impopulares desde que assumiu o poder.

A saúde de Hugo Chávez. O presidente não está bem. Nos mais altos círculos governamentais de outros países, o consenso é que a saúde do presidente venezuelano é precária e que suas chances de cura são pequenas.

A biologia pode ser mais importante que a ideologia para determinar os rumos da Venezuela. O presidente e seus assessores mais próximos sabem disso.

Quem vem depois de Chávez? Ele acaba de nomear para vice-presidente Nicolás Maduro, um de seus colaboradores mais próximos.

Em vista do estado precário de saúde do presidente, é difícil supor que os cálculos sucessórios não tenham influído sobre essa decisão. Maduro não é o único com possibilidades e vontade de suceder a Chávez.

Vários outros aliados do presidente possuem as credenciais, o dinheiro e os vínculos com grupos militares, políticos e com outros atores internacionais influentes na Venezuela, podendo ser fatores de poder muito importantes.

Esses outros aspirantes não acatarão sem reações a sua exclusão. Sabem que o padrão estabelecido pelo presidente Chávez tem sido que, uma vez que se chega ao poder, não se deve deixá-lo.

O que está em jogo é a loteria com o prêmio mais gordo da América Latina.

Nomeação a dedo ou escolha pelo voto? A Constituição prevê que, se o presidente não puder continuar exercendo suas funções, é preciso convocar eleições.

Em vista das circunstâncias, essa é uma norma muito inconveniente para Chávez. Em seus 13 anos no poder, cada vez que uma lei não lhe foi conveniente, o presidente a mudou. Não há por que supor que ele não fará o mesmo neste caso. O ideal para Chávez é que seu vice-presidente conclua o mandato presidencial, no caso de ausência do presidente.

O que fazer? Em vista do controle absoluto do presidente Chávez sobre todos os órgãos do poder, se ele decidir mudar a Constituição, dificilmente a sociedade civil e as forças políticas conseguirão impedi-lo.

A única esperança é que os líderes democráticos do mundo elevem sua voz em protesto e exijam que Hugo Chávez permita que seu sucessor seja eleito pela população, e não escolhido a dedo.

Será a oportunidade para que Dilma Rousseff ou Lula rompam com o silêncio ensurdecedor em relação às condutas pouco democráticas de Chávez.

twitter @moisesnaim

Tradução de Clara Allain

Moisés Naím

O escritor venezuelano Moisés Naím, do Carnegie Endowment for International Peace, foi editor-chefe da revista "Foreign Policy". Escreve às sextas na versão impressa de "Mundo".

 

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