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moisés naím
O que Chávez herda de Chávez
O que a Venezuela tem pela frente após a vitória de Hugo Chávez? Quatro grandes temas vão dominar a atenção do governo e do país.
A economia. O presidente Chávez inicia seu novo mandato com uma economia devastada pelas políticas que ele próprio implantou.
A inflação é a mais alta do mundo, a taxa de câmbio e as reservas internacionais do país estão em queda livre.
As importações, embora tenham aumentado cinco vezes desde 2003, não conseguem suavizar o desabastecimento crônico.
A produção petrolífera está em queda e as refinarias estão explodindo.
As distorções atingiram níveis que dentro em breve vão obrigar o presidente a tomar as decisões econômicas mais difíceis e impopulares desde que assumiu o poder.
A saúde de Hugo Chávez. O presidente não está bem. Nos mais altos círculos governamentais de outros países, o consenso é que a saúde do presidente venezuelano é precária e que suas chances de cura são pequenas.
A biologia pode ser mais importante que a ideologia para determinar os rumos da Venezuela. O presidente e seus assessores mais próximos sabem disso.
Quem vem depois de Chávez? Ele acaba de nomear para vice-presidente Nicolás Maduro, um de seus colaboradores mais próximos.
Em vista do estado precário de saúde do presidente, é difícil supor que os cálculos sucessórios não tenham influído sobre essa decisão. Maduro não é o único com possibilidades e vontade de suceder a Chávez.
Vários outros aliados do presidente possuem as credenciais, o dinheiro e os vínculos com grupos militares, políticos e com outros atores internacionais influentes na Venezuela, podendo ser fatores de poder muito importantes.
Esses outros aspirantes não acatarão sem reações a sua exclusão. Sabem que o padrão estabelecido pelo presidente Chávez tem sido que, uma vez que se chega ao poder, não se deve deixá-lo.
O que está em jogo é a loteria com o prêmio mais gordo da América Latina.
Nomeação a dedo ou escolha pelo voto? A Constituição prevê que, se o presidente não puder continuar exercendo suas funções, é preciso convocar eleições.
Em vista das circunstâncias, essa é uma norma muito inconveniente para Chávez. Em seus 13 anos no poder, cada vez que uma lei não lhe foi conveniente, o presidente a mudou. Não há por que supor que ele não fará o mesmo neste caso. O ideal para Chávez é que seu vice-presidente conclua o mandato presidencial, no caso de ausência do presidente.
O que fazer? Em vista do controle absoluto do presidente Chávez sobre todos os órgãos do poder, se ele decidir mudar a Constituição, dificilmente a sociedade civil e as forças políticas conseguirão impedi-lo.
A única esperança é que os líderes democráticos do mundo elevem sua voz em protesto e exijam que Hugo Chávez permita que seu sucessor seja eleito pela população, e não escolhido a dedo.
Será a oportunidade para que Dilma Rousseff ou Lula rompam com o silêncio ensurdecedor em relação às condutas pouco democráticas de Chávez.
twitter @moisesnaim
Tradução de Clara Allain
O escritor venezuelano Moisés Naím, do Carnegie Endowment for International Peace, foi editor-chefe da revista "Foreign Policy". Escreve às sextas na versão impressa de "Mundo".
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