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mônica bergamo

 

15/07/2012 - 03h00

Danilo Gentili vira empreendedor do 'stand-up' e investe em bares e imóveis

DE SÃO PAULO

Nos últimos anos, Danilo Gentili acumulou experiência, bens e quilos extras. "Sempre fui magro pra c... Ganhei dinheiro, engordei", diz. Acha que precisa perder uns 7 kg, mas não sabe quanto pesa o corpanzil de 1,92 m.

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O tino para negócios alargou também o patrimônio do humorista de 32 anos. Com o dinheiro ganho fazendo comédia, comprou três apartamentos. Mora num deles, na Bela Vista, na companhia de um cacto que ganhou da mãe, e aluga os outros. Quer investir em mais imóveis.

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Outra parte de sua renda vai para a construção de uma pequena "Xanadu" do humor. No final de junho, o ex-repórter do "CQC" completou um ano à frente de seu programa próprio na Band, o noturno "Agora É Tarde", que registra pico de 14 pontos de audiência. "Antes da gente, a média do horário era 0,6."

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Fora da TV, Gentili ergue um pequeno império que começou com um bar na rua Augusta, o Comedians, voltado a apresentações de 'stand-up comedy' --gênero que o consagrou. Rafinha Bastos, ex-colega do "CQC", é sócio, mas "aparece pouco" por lá. Já Gentili dá pitaco em tudo: do design do cardápio (que traz desenhos dele) até decidir se vale a pena gastar R$ 2.000 numa "máquina desentupidora" (acha que vale).

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Junto com o empresário Ítalo Gusso, negocia a compra de outro bar, em Moema, e quer investir no ramo da gastronomia. Também planeja criar um especial para a TV paga, um jogo de tabuleiro e um documentário. Vai estrear no cinema em um longa de ficção, "Mato sem Cachorro", dirigido por Pedro Amorim. Tudo voltado à comédia.

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"Tô preocupado não com o deslumbre, mas com a fase em que tudo vai acabar e vou ter que voltar a pegar caixa no shopping", ele diz à repórter Anna Virginia Balloussier. Antes de decidir ganhar a vida como humorista, foi carregador de caixas e até funcionário público em sua cidade natal, Santo André (SP). "Lá eu era auxiliar administrativo do setor dos garis. Cheguei a varrer rua, quando teve enchente."

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A conta bancária ainda não seria milionária. Gentili afirma que está longe de tirar R$ 1 milhão por mês, como outros apresentadores. "Perto disso, só se for por ano."

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Não faz o tipo "esbanjador". Amigos o descrevem como sossegado e avesso a baladas. Ele acha que seu ibope com a mulherada não aumentou tanto assim. "Mulher anônima é muito mais pegadora do que homem famoso", afirma enquanto degusta um polpetone no restaurante América dos Jardins.

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Na área de serviço do seu apê, o varal está lotado de camisetas brancas. Em fotos de 2009, já aparecia com o mesmíssimo visual. Terno é uniforme de trabalho desde os tempos de "CQC" --onde estreou se fingindo de repórter inexperiente para Agnaldo Timóteo, em 2008. Com "Agora É Tarde", ele vira o âncora, "o amigo sacana que está te recebendo em casa".

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No 'talk show', já entrevistou de Marilia Gabriela a Gretchen. Para fazer o programa engrenar, no começo, Gentili chegou a contratar uma agente especializada em contatar personalidades.

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"Nos Estados Unidos, as pessoas querem participar. Presidente americano faz fila para ir a um programa de comediante. A cultura aqui é mais coronelesca. É 'falou mal de mim, conheço tal agência de publicidade que não vai dar mais dinheiro.'"

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Gentili acha que o diferencial da sua geração é saber dar a cara a tapa. "Comediante brasileiro, para fazer piada, precisa se vestir de loira, de português. Não me escondo atrás do personagem para fazer aquela velha piada que não ofende ninguém."

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A diferença do 'stand-up', diz, é transformar as próprias fraquezas em matéria-prima. "Oi, faço isso porque meu pau é pequeno, sou um merda, um fracassado", brinca.

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É também um "monoteísta free-lancer". "Só acredito em um Deus, em mais nada." Na adolescência, frequentou a igreja batista e pensava em ser pastor. Piadista da congregação, trocou o mote "S.O.S. da vida" por "$.O.$. da vida" numa faixa.

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Na carreira, duas piadas causaram quase tanta comoção quanto a tirada de Rafinha Bastos sobre o bebê de Wanessa Camargo.

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Em 2009, Gentili questionou se King Kong, um macaco que "fica famoso" e "pega uma loira", pensava ser um jogador de futebol. No ano passado, voltou à berlinda ao dizer que entendia "os velhos de Higienópolis temerem o metrô", pois "a última vez em que chegaram perto do vagão foram parar em Auschwitz".

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Não teme patrulha. "Tem gente que me acha um babaca. As pessoas vão ter todos os motivos para achar isso de qualquer um. Fala um nome que você quiser. Madre Teresa? Muitos acham ela uma babaca também", afirma.

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Uma das melhores dicas que recebeu foi de uma de suas vítimas preferidas. "Vim te dar um conselho", ele diz imitando o jeito de falar do deputado Paulo Maluf (PP-SP), que certa vez o puxou num canto e veio com esta: "Nunca se justifique. Seus amigos não precisam, eles já gostam de você. E seus inimigos não vão se contentar com isso".

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Por um ano, até o meio de 2011, Gentili tomou antidepressivo contra distimia (um tipo de depressão). "Sai um peso", relata. O diagnóstico veio em 2010, quando ele conta que levava "uma vida totalmente conturbada". O quadro de tristeza do humorista foi se instalando depois de uma sequência de perdas.

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"Primeiro perdi pai [de infarto], após seis meses, irmã [acidente de carro]. Depois, perdi emprego, tudo. Juntou com uma época em que trabalhava pra c... Pensei: 'Quer saber, mano? Tô ganhando dinheiro, vou me cuidar."

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E agora, o humorista é feliz? Ele responde com uma letra de Odair José: "Felicidade não existe, existem momentos felizes".

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"Comédia não é feita com alegria. É válvula de escape para você tentar rir de uma coisa que pode te ferir. É tábua de salvação."

mônica bergamo

Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

 

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