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mônica bergamo

 

05/08/2012 - 03h00

Juliano Cazarré, o Adauto de 'Avenida Brasil', lança livro de poesias até o fim do ano

No momento de maior exposição de sua carreira, Juliano Cazarré, 31, o gari Adauto da novela "Avenida Brasil", está se sentindo culpado. Por conta das gravações da trama das nove da Globo, um dos maiores sucessos da TV atualmente, ele se mudou para o Rio. Sua mulher, a bióloga Letícia, grávida de oito meses de Inácio, e o filho Vicente, 2, ficaram em Brasília.

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"Eu não tinha muita escolha. A hora de fazer novela era essa. Perder a gravidez [da minha mulher] é algo quase inaceitável, um preço muito caro de se pagar. Inclusive porque não sei se terei outro filho, sacou?", afirma à repórter Lígia Mesquita, no café de uma livraria na Barra da Tijuca, no Rio.

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A distância da família continuará sendo um "dolorido" obstáculo para o ator até o fim de outubro, pelo menos. Ele já está escalado para a microssérie "O Canto da Sereia", baseada na obra homônima de Nelson Motta, que será gravada quando a novela acabar. O convite partiu do diretor Ricardo Waddington, responsável por "Avenida Brasil".

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No folhetim de João Emanuel Carneiro, seu personagem é um ignorante que namora uma mulher bem mais velha (Muricy, interpretada por Eliane Giardini) e provoca risadas por falar errado. As frases dele ganharam até uma página no Facebook, "Pérolas do Adauto".

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O assédio e a fama decorrentes do sucesso de seu primeiro grande papel na TV ainda assustam o ator. "Outro dia cheguei em casa da minha corrida matinal e meu assessor me ligou. Ele já sabia que eu tinha ido correr porque minhas fotos estavam em sites", diz. "É uma fase de readaptação, sacou? Não posso pensar: agora estão me pedindo foto, sou uma estrela. Não serei o primeiro nem o último a fazer isso, sacou? Sou normal, cara."

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Cazarré era mais conhecido até o começo do ano por seus papéis no cinema. Participou de 14 longas em sete anos. Entre eles, "Tropa de Elite", "A Festa da Menina Morta", "Bruna Surfistinha" e "Assalto ao Banco Central". No momento, pode ser visto na telona como o traficante Boca Mole em "Febre do Rato", de Cláudio Assis. Em todos, nunca foi protagonista.

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Gaúcho de Pelotas, ele cresceu em Brasília por conta do trabalho do pai, Lourenço Cazarré, assessor parlamentar do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Até ingressar na faculdade de artes cênicas da UnB, conta nunca ter feito uma peça. "Quando comecei a estudar, descobri que era isso o que eu queria fazer a vida toda", diz.

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Hoje, Cazarré está contratado até 2013 pela TV Globo. "Avenida Brasil" é sua segunda novela --a primeira foi "Insensato Coração", em que fazia o motorista Ismael. "Quem desdenha da TV sem ter passado por ela está na defesa. É um veículo que pode dificultar mergulhos mais profundos, mas tem outras delícias. E você é assistido por 40 milhões de pessoas. No teatro só 150 pessoas vão te ver a cada noite", afirma.

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Na emissora carioca, o ator participou do seriado policial "Força Tarefa" e da série "Som & Fúria", dirigida por Fernando Meirelles.

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O trabalho com Meirelles na TV lhe rendeu o convite para "360", longa internacional do diretor que será exibido na sexta no Festival de Gramado e estreia no Brasil no dia 17. No elenco formado por Anthony Hopkins, Jude Law e Rachel Weisz, só Cazarré e Maria Flor são brasileiros. E falam inglês.

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"Um dia o Fernando mandou um e-mail elogiando meu portunhol no filme 'VIPs'. Eu respondi: quando precisar de um cara que fale inglês, eu falo um inglesinho bacana [risos]." Deu certo.

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No longa, ele vive Rui, fotógrafo brasileiro que vive em Londres e se envolve com a personagem de Rachel Weisz, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante com "O Jardineiro Fiel", também de Meirelles. "Ela foi muito gente boa, conversamos, brincamos nos ensaios", conta.

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Cazarré afirma não ter se intimidado com o time de Hollywood. "Não posso pensar assim. Nunca me intimidei com ninguém. Se eu pirar toda vez que tiver uma cena com estrelas, vou parar de trabalhar. Se me pego falando 'O que tô fazendo aqui?, todos vão saber que sou uma fraude', logo penso: Pera, fui convidado, tem um motivo. E faço o meu trabalho."

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O ator já tem convite para novos filmes. Mas, por superstição, não conta. "Não falo do que ainda não aconteceu. Acho que esvazia." Entre os diretores com quem gostaria de trabalhar estão Beto Brant e Jorge Furtado.

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Se conseguir captar recursos, pretende filmar o primeiro longa que escreveu. "É um 'road movie' sobre um casal que sai de Brasília e vai à Bahia." Mas ele não espera atuar na produção. "Não consigo ser protagonista nem no meu próprio filme! [risos]"

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Ele acredita que faz "total diferença" estar no papel principal. "Quero me testar nesse lugar até para ver se consigo fazer. Não sei se consigo carregar um filme, uma novela", afirma.

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Mesmo não sendo protagonista, sua atuação em "Avenida Brasil" lhe rende muitos elogios. "O Juliano é uma explosão de espontaneidade. Ele fez o personagem dele ficar enorme. Isso prova que não existe papel pequeno", diz à coluna o diretor Ricardo Waddington.

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Para Cazarré, uma das explicações para a grande repercussão da novela está no fato de ela atingir "um público das classes A e B, formadores de opinião". "Se pegar a audiência [média de 40 pontos no Ibope], ela não faz um público muito maior que o das outras. A diferença é que atinge pessoas que a Globo não vinha atingindo, gente que não via TV aberta."

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A ideia que a TV brasileira agora foca na chamada nova classe C e assim nivela a qualidade por baixo, não é verdadeira em sua opinião. "Sei que 'Avenida Brasil' foi um salto de qualidade. Existe a ideia errada de que o público não tá preparado para algumas coisas. E ele está."

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O ator afirma ser correto as emissoras buscarem esse público novo, mas acha preciso que elas se preparem. "A gente vê nas ruas o que acontece quando não nos preparamos para a ascensão de uma classe ao consumo. O Brasil vende carros, mas não tem pistas. Enquanto essas pessoas ficavam empilhadas em ônibus, tudo bem. Agora, a classe média tá indignada porque fica engarrafada", diz ele, cujo sonho de consumo atual é quitar o apartamento que financiou em Brasília.

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Até o fim do ano, o gaúcho lançará seu primeiro livro de poesias, "Pelas Janelas". O gosto pela escrita vem de casa. O pai é também escritor e já ganhou um Prêmio Jabuti. Ele declama um dos poemas que estarão na obra: "De todas as janelas do mundo/Nenhuma é mais singela/Que a janela de um sorriso/De uma criança banguela".

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Esse seu perfil mais intelectualizado na vida real é o que ele tentará emplacar nos próximos trabalhos.

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"Estou convencendo as pessoas de que dá para eu fazer papéis que não precisem de uma pegada mais máscula", diz ele, cujo físico musculoso foi conquistado com a natação, esporte que pratica desde os nove anos de idade. Seu corpo, afirma, não é mais o mesmo de dois anos atrás. "Sou pai de família. Tenho barriguinha, pneuzinhos."

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Para o futuro, tem um objetivo. "Quero mostrar que não preciso fazer só o tosco, ou o bandido. Quero um personagem que tenha um bom emprego, fale o plural e acerte a concordância [risos]."

mônica bergamo

Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

 

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