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mônica bergamo

 

11/11/2012 - 03h00

Esquenta o mercado de trabalho para Papai Noel

"Vida de Papai Noel deveria ser fácil, é um dia só por ano. Mas nem um dia por ano eu tô conseguindo trabalhar", diz o taxista aposentado Armando Schon. Em 2011, quando completou 70 anos, ele decidiu começar nova carreira: tentou complementar a renda de fim de ano fazendo bico de bom velhinho.

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Desistiu. "Fui a mais de 20 testes. Sou gordinho e tenho barba branca, mas ninguém me quis, só porque não tenho experiência." Pudera: o trabalho, que costuma durar um mês, tem salário entre R$ 5.000 e R$ 20 mil e está cada vez mais concorrido, dizem postulantes à vaga ao repórter Chico Felitti.

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Não há dados oficiais sobre o desemprego na categoria nem um sindicato de profissionais natalinos. Mas, só no mercado paulistano, há mais de dez agências especializadas em locar candidatos. A tropa de velhinhos para atender a crianças em shoppings e em casas de família chega a 400, calculam os empresários do setor.

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"Estão exigindo cada vez mais deles", diz Jorge Occhiuzzio, da agência Papai Noel Brasil. "Mas a principal exigência ainda é ter jogo de cintura", diz Silvio Ribeiro, da agência Claus.

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Ribeiro dá aulas de como exercer a função. E usa exemplos pessoais, como quando uma mulher adulta pediu para se sentar no seu colo. Papai Noel não pode dizer não, é uma das regras ensinadas, mas ele negou. "Meia hora depois, veio o motorista dela avisar que ela estava me esperando no carro. E que pagaria uma boa grana se eu fosse." Não foi.

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A qualificação inclui também saber reagir a situações inusitadas. Uma delas é como se portar quando o cliente coloca o cachorrinho no colo do ator e pede para fazer fotos do mascote "pedindo" presente. "É cada vez mais comum. Tem que tratar o pet como se fosse criança, ensino", diz Paulo Mendes, da agência Companhia do Bafafá.

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Há 13 anos no shopping Market Place, Paulo Palazzini, 64, precisou se reciclar para este ano. As crianças pediam tablets, smartphones e outras parafernálias tecnológicas. "Eu tinha dificuldade de entender." Foi, então, ler anúncios de loja de informática para se atualizar sobre os novos presentes desejados.

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Não é só o tipo de apelo que evoluiu com o tempo. O jeito de pedir prenda para o Papai Noel também está diferente. O shopping Cidade Jardim decidiu proibir que as crianças se sentem no colo. "Haverá um trono para elas ao lado do Papai Noel", explica Debora Lucki, do marketing shopping.

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Outra exigência é manter a saúde durante a jornada de trabalho, que vai de oito horas ao dia até 16 para alguns bravos (e sortudos) senhores que pegam dois empregos.

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Todos os 50 sósias de são Nicolau da agência de Silvio terão de fazer exame médico antes de assumir seus tronos. "No ano passado, o do shopping Higienópolis passou mal enquanto estava trabalhando", explica Ribeiro. O Higienópolis diz que manterá o profissional do ano passado e que "solicita atestado de saúde" de quem trabalha na temporada de Natal".

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Mas imprevistos acontecem mesmo com os mais experientes e precavidos. O shopping Iguatemi trabalhava com o mesmo Noel há mais de uma década. Na semana passada, ele teve problemas de saúde que o impediram de labutar. Foi substituído em cima da hora.

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Nada que tenha causado sufoco. "Temos um banco de currículos dos profissionais que nos procuram", diz Eduardo Audrá, gerente do shopping. O Noel pinçado desse banco é Jeorge, 70, que é fluente em italiano e em inglês, além de em português.

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Alguns senhores ainda são achados em público e não passam por "vestibular". José Carlos Bertochi, 65, foi ao West Plaza pagar uma conta no ano passado. Foi interpelado na fila com a pergunta "O sr. é Papai Noel?". Não era, mas passou a ser na mesma hora. E pegou gosto pela coisa: neste ano foi chamado por dois centros de compras. Escolheu um em Taubaté (SP), com cachê de R$ 8.000 por um mês mais pousada.

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Mas nem todos conseguem assinar com um shopping. "É como se fosse a primeira divisão", diz Armando Peçanha, 69, que ainda não chegou lá. Em seu segundo ano, ele só conseguiu agendar casas de família. E muitas: "São seis na véspera e quatro no Natal". As agências servem Noeis para shoppings e também para famílias.

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As ceias caseiras têm outro tipo de problemas. "Tem aquelas festas a que você vai, e o pessoal já está alcoolizado, passa a mão no seu bumbum e diz: 'Ô, Papai Noel gostoso!'. Tem sempre um engraçadinho", conta Jorge Occhiuzzio. A recomendação é cobrar o cachê, que vai de R$ 400 a R$ 1.000, adiantado.

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"No fim, a festa da minha família começa só na noite do dia 25", diz Paulo Schinde, 72, que largou as agências e agora trabalha por conta, só em casas de família. "Mas vale a pena", diz o autônomo, que volta para casa com o saco cheio com R$ 10.000 que ganha das 20 casas que visita entre o dia 24 e o 25.

mônica bergamo

Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

 

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