Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki

Uma agenda de reformas progressistas é essencial para refundar a esquerda

Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress BRASILIA, DF, BRASIL, 06-03-2015, 18h00: Sede do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, onde também estão as sedes do legislativo (Congresso Nacional) e Executivo (Palácio do Planalto). O ministro do STF Teori Zavascki deve divulgar a qualquer momento o conteúdo dos pedidos de inquérito da operação Lava Jato, feitos pela PGR e serão conhecidos os nomes dos políticos envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
A Praça dos Três Poderes, em Brasília, onde ficam as sedes do Legislativo, do Executivo e do Judiciário

Poucos artigos desta coluna causaram reações tão contraditórias como "Reforma pela Esquerda". Muitos elogiaram o texto, que aponta para a necessidade de reformas estruturais, outros o criticaram, afirmando que ele contribuía para "as forças políticas que estão destruindo direitos e golpeando a democracia".

No Brasil pós-2016, o termo "reforma" tem sido relacionado, exclusivamente, a propostas defendidas pelo mercado para reduzir o tamanho do Estado e suprimir direitos conquistados no século 20.

Mas ser contra essas "reformas" não significa ignorar as causas estruturais da atual crise nem se omitir em relação a premência de implementar mudanças para enfrentá-la.

Por falta de iniciativas da esquerda, o neoliberalismo vem tentando capturar o termo "reforma". Mas ele sempre esteve ligado, em todo o mundo, ao campo popular e progressista que, no Brasil dos anos 1960, defendia as "Reformas de Base" (agrária, urbana, sanitária, educacional), para modernizar o país com justiça social.

Em "A Difícil Democracia: Reinventar as Esquerdas", Boaventura de Sousa Santos aponta para a urgência de esquerdas reflexivas. Ele defende "refundar as esquerdas, depois do duplo colapso da social democracia e do socialismo real". "Não questiono que haja um futuro para as esquerdas, mas seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado."

"No poder, as esquerdas não têm tempo para refletir sobre as transformações que ocorrem nas sociedades. Quando não estão no poder, dividem-se internamente para definir quem será o líder nas próximas eleições e as análises ficam vinculadas a esse objetivo. Essa indisponibilidade para reflexão, se foi sempre perniciosa, é agora suicida."

A frase, escrita em 2011, é perfeita para o Brasil de 2018. Palavras de ordem, sem reflexão e proposições consistentes, em clima de polarização simplificadora, são insuficientes para enfrentar a crise atual e apontar um futuro promissor para o país.

Para se constituir como uma alternativa, a esquerda precisa construir, em um amplo debate, uma agenda de reformas, que não foram viabilizadas em 13 anos de governo do PT.

O arranjo político com forças conservadoras e interesses corporativos que sustentaram o governo dificultaram ou impediram a implantação de mudanças estruturais, indispensáveis para evitar o colapso do modelo distributivo e garantidor de direitos que se buscou implementar.

Uma esquerda reflexiva, aberta ao debate e críticas, é fundamental para propor alternativas às antirreformas de Temer e formular uma agenda que deve incluir temas como reformas política, tributária, previdenciária, agrária, urbana e do Estado.

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