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O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.
Direita e extrema-direita também entram em confronto nos EUA
Não é só na Europa ou no Brasil que a direita está rachando ruidosamente.
O "Washington Post" publica nesta segunda (20) longa reportagem sobre o site do conselheiro-chefe de Trump, "Stephen Bannon moldou o 'Breitbart' como um martelo de extrema-direita. Como ele será usado na era Trump?".
Destaca que Bannon transformou o editor Milo Yiannopoulos numa estrela e lembra, em meio a sinais de favorecimento do site pela Casa Branca, que Trump ameaçou após o cancelamento de um evento acadêmico com Milo: "Se Berkeley não permite liberdade de expressão e pratica violência contra pessoas com ponto de vista diferente - CORTAR OS FUNDOS FEDERAIS?.
Mal entrou no ar o material do "WP" e estourou um escândalo num perfil conservador no Twitter, Reagan Battalion, que ameaça a ascensão de Milo. O grupo postou o vídeo de uma entrevista em que Milo, que é homossexual, defende o sexo entre meninos de 13 anos e homens mais velhos. Ele tentou responder via Facebook, sem maior efeito.
A newsletter Axios AM, de Mike Allen, referência para os bastidores de Washington, deu como enunciado, "Adios, Milo". E o Reagan Battalion registrou ironicamente, como se o vídeo fosse um presente para o próprio Bannon, lembrando o feriado nos EUA:
PS 20h - Segundo "NYT" e outros, Milo foi desconvidado de um tradicional encontro de conservadores, CPAC. Segundo a "Publishers Weekly", a editora Simon & Schuster cancelou o contrato para publicar um livro seu, para o qual já havia adiantado US$ 250 mil. No Facebook, Milo escreve que "já passou por coisas piores" e isso "não vai me derrotar".
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"Breitbart" não é a única ponte de Trump com a extrema-direita. No "New Yort Times", o colunista de mídia, Jim Rutemberg, perfila outra, o "Infowars" de Alex Jones.
Diz que as teorias conspiratórias do site "ecoam" em algumas das invenções de Trump no Twitter e em discursos. A expressão "inimigo do povo" lançada contra "NYT" e CNN no final da semana, por exemplo, não teria vindo da peça de Ibsen ou de algum discurso bolchevique, mas de Jones.
Rutemberg ouviu do editor do "Infowars" que após a eleição Trump ligou para agradecer o apoio e que, já presidente, eles continuam a conversar.
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Em resposta aos seguidos ataques de Trump à imprensa, o senador republicano John McCain afirmou, no "Meet the Press", da NBC:
— Nós precisamos de uma imprensa livre. É vital. Se você quiser preservar —estou sendo muito sério agora— se você quiser preservar a democracia como a conhecemos, você tem que ter uma imprensa livre e muitas vezes adversária. Sem ela, perderíamos muito das nossas liberdades individuais. É assim que os ditadores começam.
Outro republicano, o congressista Rand Paul, defendeu Trump no "This Week", da ABC: "Eu vejo o presidente expressar sua opinião... mas não vejo nenhuma evidência de que alguém esteja apresentando qualquer tipo de legislação para limitar a imprensa".
E um ex-integrante da campanha de Trump, hoje na Fox News, Steve Cortes, foi pela mesma linha: "Ditadores suprimem a mídia. Trump faz argumentos vigorosos, raciocinados e populares contra o viés da mídia. Desçam de seus cavalos...".
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