É escritora e colunista de gastronomia da Folha há 25 anos. É formada em Educação pela USP e dona do Buffet Ginger há 26 anos.
Escreve às quartas-feiras.
Vai passar
A nossa alegria atravessou o mar e ancorou na passarela. E os antigos foliões que queriam romantismo, alegria e candura, e muita bunda bonita, ai, mulata, cor de canela, salve, salve, receberam de volta a simples narração de uma história sem graça, repetitiva.
Os novos repórteres que nem conheceram os antigos Carnavais acham que narrativa da avenida deve ser feita por uma série de sobressaltos que nos acordem da passividade e que nos deixem à beira de um ataque de nervos.
Começam com a alegoria que empaca no primeiro portão e que, irremovível, vai tirar pontos da escola e impedir o Carnaval inteiro.
Depois é a bateria que vai atravessar, porque Neguinho da Viração inventou uma paradinha nova. E ainda o anúncio insistente de que só faltam 16 minutos para oito carros passarem. Acompanha a última frase a imagem de um bando de retardatários acossados, correndo, agarrados ao chapéu de plumas três vezes maior que a cabeça, tropeçando em direção à apoteose.
E o enredo é lido em rodízio, por dois desencantadores de cobras, abismados como nós, pelo mistério de como os egípcios foram parar ali, na avenida, pintados de dourado e com a boca cheia de confete, pedacinho colorido de saudade.
Mas aquela quantidade de gente não é formada de robôs programados para dar sono em turista. O que os faz, dançar e cantar?
Essa TV mediadora tem que achar um jeito de transformar, de nos fazer entender que toda alegria pode redimir, melhorar, curar. Além disso, mulher, tem outra coisa....
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