É escritora e colunista de gastronomia da Folha há 25 anos. É formada em Educação pela USP e dona do Buffet Ginger há 26 anos.
Escreve às quartas-feiras.
Como y donde
Siempre que me preguntan qué, cuando, como y donde comi a melhor comida, sempre respondo "depende do dia, da hora, do desejo, da fome". De verdade, pra todo dia é a brasileira. Na semana passada foi o México, Popocateptl, Ixtacclhatl, ah, Tenochtitlán, a ruela seca, sedenta, as pedras, só pedras e eu queria comer os lagartos modorrentos de carne branca da estrada com molho de Cortez e Montezuma.
Bebidas claras e puras com lesmas gosmentas e frutas confitadas.
As mangas mais doces da mulher que dançava em amarelos, inocente e fresca.
Quero tamales, tortillas, Cochinita Pibil!
Aquele desarranjo de cores, os bigodes ásperos, o sexo roxo, o zócalo no crepúsculo e as cestas de marmelo pelo chão.
Comer devagar o pão branco e mole, sin lechuga, señora, sin lechuga, afirma a índia com seu rosto de máscara arrogante e orgulhosa.
Não me importo com o sangue dos touros na praça, o sangue nas banderillas, quero provar a carne dura e vermelha, sentir na boca sacrifícios astecas.
Enrique, flaquito, assa frutas e flores em folhas, a simpatiquíssima Lourdes me deu de beber em taças que tinham no fundo um cacto e uma mariposa.
O gordo Diego se ri da lambança amarela e Frida chora em Finados. Vamos beber quilômetros de pulque.
Preciso das formigas como as da Mara e do Atala, mas quero que venham engalanadas em sombreros.
Minha barriga arde por tamarindos e pimenta e açúcar. Daqueles comprados na boca do metrô.
No chá das cinco passo manteiga nos crepes e bolos e croissants bem franceses de Maximiliano. Mas com gafanhotos e grilos torrados, claro hombre!
Hasta la vista, serpiente emplumada, fatal, escondendo o veneno escuro no corpo sinuoso. O México tem mesmo alguma coisa melancólica e funda que dá medo, uns restos daqueles povos antigos e seus monstros. À noite, se chove, e as flores perfumam a escuridão, é possível escutar os tambores. Por enquanto ficamos com as receitas pré-hispânicas e com as minas de prata.
Doce de batata-doce roxa e goiaba
Ingredientes
Batata-doce roxa cozida e amassada
Goiabas amassadas e passadas na peneira
Açúcar
Creme de leite fresco batido
Preparo
Ponha o açúcar numa panela e umedeça-o com água, leve ao fogo até o ponto de bala dura.
Junte a goiaba e a batata-doce e deixe ferver por 20 minutos. Deixe esfriar e junte, então, o creme de leite batido, com gestos largos. Sirva em taças. (O creme de leite não é adaptação, eles usavam mesmo.)
Livros bons de se ler para conhecer melhor o México
Toda a obra de Octavio Paz. Cada calhamaço enorme, mas bons, muito interessantes. Quase um projeto de vida. Vá comprando em livrinhos separados, é mais fácil.
The cuisines of Mexico/ Diana Kennedy – Bem didático, aprende-se.
The Cuisine of Mexico – que é uma edição revisada.
Frida Kahlo- Frida´s Fiestas/ Rivera Colle
Pre-hispanic cooking Ana M. de Benitez Ediciones Euroamericana
Pulque, Balchê e Pajuaru – na etnobiologia das bebidas e dos alimentos fermentados da Universidade Federal de Pernambuco Oswaldo Gonçalves de Lima
Recetario tradicional del Distrito Federal /Cocina Indigena y popular – Muito boa a pesquisa. São quase 60 livrinhos sobre a comida mexicana dos pueblos. Vale a pena para quem se interessa.
E tem muitos outros, vá a sebos, livrarias... Ou ao México.
Li um romance famosos de Malcolm Lowry - Under the volcano e outro de DH Lawrence - Serpiente emplumada
E em sebos, ou na Amazon mesmo, México, de Érico Veríssimo
Na última coluna da Folha, sobre galinhas vocês me ajudaram muito. Recebi vídeos, palpites, fotos, foi ótimo. Os mexicanos que se
mostrem e venham nos ensinar mais. Uma coisa que me intriga. Não temos masa-harina para comprar aqui? Diana Kennedy ensina como fazer, está logo depois da coluna. Muito trabalho, o bom era encontrar pronta para fazer as tortillas.
Não conheço um restaurante de comida mexicana e não TEX-MEX em São Paulo. Pode existir, mas nunca fui.
Música, adoro a intérprete Chavella Vargas, porto riquenha do México. Uma voz maravilhosa e intérprete famosa. Aceitamos sugestões também.
Oi, mexicanos, venham em nossa ajuda, estamos precisando violentamente. A minha obrigação é a coluna da Folha, já fiz, o resto é com vocês.
Livraria da Folha
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