Publicitário baiano, é dono do maior grupo publicitário do país, o ABC.
Escreve às terças-feiras,
a cada duas semanas.
'South by South of France'
Um dos pontos altos do festival Cannes Lions deste ano foi o Leão de São Marcos concedido para Marcello Serpa. É um prêmio sem precedentes na história da propaganda brasileira.
É preciso ter superestrelas para ter um supernegócio. E nesse quesito o mercado brasileiro é abençoado, pois tem Marcello Serpa, Alexandre Gama, Fabio Fernandes, Sergio Gordilho, Sergio Valente, o grande Washington Olivetto e muitos mais.
Serpa é fruto de uma linhagem contínua de excelência da propaganda brasileira, iniciada por pioneiros que construíram mercado criativo e eficiente, um verdadeiro céu para abrigar estrelas. Gente como Mahfuz, Petrônio e Macedo, Mauro Salles, os DPZs, criando enorme valor a marcas e empresas.
O prêmio a Serpa reconhece tudo isso. Assim como a premiação de todos os brasileiros em Cannes, sempre em dimensões muito maiores que as de nossa economia.
Mas Cannes hoje é muito mais que prêmios. O festival se tornou o South by South of France, uma feira de conhecimento com conteúdo impressionante –de palestras de celebridades-cabeça, como o ator Will Smith, a sumidades mundiais em tecnologia, big data, antropologia e coisas que a gente nem imagina.
Foi uma ingestão de ânimo, uma grande oportunidade para atualizar meu sistema operacional mental. E voltei convencido a incentivar os clientes brasileiros a ir mais a Cannes.
Os grandes clientes globais da propaganda vão cada vez mais ao festival para dar e assistir a palestras e trocar informações com outros clientes. Mas sinto que no Brasil persiste a ideia antiga de que Cannes é oba-oba, fogueira de vaidades. Essa é uma "verdade do passado" que, graças à competência do festival e de seu comandante, Phil Thomas, fica cada vez menos verdade e cada vez mais passado.
A verdade é que o Cannes Lions é até um festival. Além da premiação, há um show de conhecimento, inovação e novidades tecnológicas.
Eu mirei em alimentar meu cérebro. Tem que acordar bem cedo, ficar o dia todo dentro do Palais e exercitar um CDFismo que compensa.
Não dá para ver tudo. É preciso focar o mais importante para você e os seus negócios. Foquei onde a disrupção é mais forte. Não deixei de ver os grandes premiados de filme, rádio e impresso, mas procurei ver o máximo possível de cyber, mobile, titânio, entretenimento e inovação. E posso, com minha assinatura anual de Cannes Lions, assistir ao que ainda não vi.
As grandes marcas globais estão fazendo uma coisa muito esperta –marcam a convenção de seus departamentos de marketing em paralelo ao festival. Você hospeda seu time em Airbnbs de cidadezinhas próximas e monta uma convenção que vai atualizar seu marketing de maneira brutal e em conta. Sem falar do show que Google, Facebook e as "powerhouses" de inovação e conhecimento realizam paralelamente ao festival.
Cannes, Nice e região lembram hotéis caros e custos altos. Mas, na palestra do Airbnb, seu presidente-executivo perguntou à plateia quantos usaram seu site. A grande maioria levantou a mão. A moçada de hoje não quer champanhe, quer conhecimento e cerveja e uma cama limpinha para sonhar o futuro.
Mas tem a pergunta que não quer calar: mesmo numa crise dessas, vale ir a Cannes? Sim. Porque Cannes é investimento, não é despesa. Você vai ver grandes ideias executadas com pouca verba e soluções fora da caixa criadas para todo tipo de país e cliente.
Numa crise, é preciso inspiração para não pirar. E Cannes é um dos lugares do mundo para se inspirar.
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