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patrícia campos mello

 

04/11/2011 - 12h55

Bill Gates e o G20

O relatório que o bilionário Bill Gates preparou para apresentar ao G20 está cheio de boas ideias. A pedido do presidente francês Nicolas Sarkozy, atualmente na liderança do G20, Gates elaborou um documento com propostas para evitar que a ajuda externa dada pelos países ricos aos mais pobres seque durante a crise econômica mundial.

No relatório, Gates pede que parcerias trilaterais como a do Brasil, Japão e Moçambique sejam um modelo para ajuda externa. Na parceria, a Embrapa colabora com sua expertise de agricultura no cerrado, que tem características muito semelhantes a certas áreas de Moçambique, enquanto o Japão financia obras de infraestrutura no país. A Fundação Bill & Melinda Gates acaba de assinar um memorando de entendimento com a Agência Brasileira de Cooperação para colaborar com as ações agrícolas do Brasil na África (há uma doação inicial de US$ 2,5 milhões).

Para Gates, é importante que as chamadas novas potências como China, Brasil e Índia assumam suas responsabilidades e passem a ajudar mais os países pobres. Em entrevista à Folha, ele elogiou muito a Embrapa e os programas de agricultura e saúde do Brasil, mas ressaltou que a colaboração do país ainda é mínima. "O Brasil precisa deixar de gastar apenas dezenas de milhões de dólares em ajuda a outros países e passar a gastar centenas de milhões: isso não é uma enorme porcentagem do PIB brasileiro", disse Gates. "Ajuda externa é uma decisão política e, por enquanto, os montantes envolvidos são excessivamente pequenos."

De fato, o orçamento da ABC projetado para este ano não chegava a R$ 92 milhões (embora há que se fazer a ressalva que o país faz doações externas por vários outros meios e contribui bastante com o Haiti, por exemplo).

E está na hora de o Brasil "step up" e assumir as responsabilidades que vêm com o novo status de potência global --não dá para querer ser tratado como "coitadinho" em desenvolvimento ao mesmo tempo em que o país quer ser ouvido como potência.

O fundador da Microsoft também propõe que países que são tradicionalmente doadores, os mais ricos (que são exatamente os mais afetados pela atual crise mundial) criem impostos ou aumentem os existentes com renda inteira revertida para ajuda às nações pobres. Ele sugere um imposto Tobin, sobre transações financeiras, imposto sobre combustíveis de aviação e sobre tabaco.

É uma iniciativa louvável, porque tem efeitos colaterais benéficos (para saúde e redução das emissões de CO2). Mas no meio do furacão econômico, com países tentando desempacar a demanda doméstica, vai ser muito difícil emplacar novos impostos. Nos EUA então, quase impossível - não conseguiram aprovar aumento de imposto (ou eliminação de isenção) nem para reduzir o gigantesco deficit do orçamento.

Outras propostas louváveis, mas que dificilmente vão sair do papel, são conseguir que os países do G20 usem seus fundos soberanos para financiar infraestrutura em países pobres e fazer com que os países ricos mantenham seus compromissos de ajuda.

O histórico do G20 quando se trata de cumprir promessas é pobre. Em 2009, os líderes mundiais do G20 prometeram evitar uma repetição da guerra das tarifas dos anos 30, que aprofundou a Grande Depressão. Desde então, o protecionismo só aumentou.

Segundo relatório divulgado pela União Europeia esta semana, foram adotadas 424 medidas protecionistas desde o início da crise. Só neste ano, foram 131. E os governos do G20 foram responsáveis por 80% delas.

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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