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patrícia campos mello

 

23/12/2011 - 07h02

Sinal amarelo nas contas externas

Durante este ano, ouvimos várias vezes autoridades do Banco Central tranquilizarem jornalistas ou analistas quando havia uma alta no deficit em conta-corrente: "Não há por que se preocupar, porque a totalidade do deficit é financiada por investimentos estrangeiros diretos, a forma mais estável e segura de recurso externo." Trata-se do investidor que vem e compra uma fábrica, ou injeta dinheiro em uma sociedade, e não vai tirar seu dinheiro daqui ao menor sinal de instabilidade.

Este ano, o deficit em transações correntes do Brasil deve chegar a US$ 53 bilhões, de acordo com a previsão do BC divulgada esta semana, o equivalente a 2,14% do PIB. Será inteiramente financiado por um investimento estrangeiro direto (IED) de US$ 65 bilhões.

Já no ano que vem, o deficit em conta-corrente vai subir para US$ 65 bilhões, ainda segundo a estimativa do BC. E o IED vai cair para US$ 50 bilhões, ou seja, insuficiente para cobrir o buraco.

Autoridades do BC, de novo, vieram a público dizer que não estão preocupadas. "As transações correntes são financiadas por uma série de contas, não apenas pelo IED", disse o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.

Na prática, isso significa que vamos depender de capitais mais voláteis, como investimentos em ações e títulos, para fechar nossas contas. Esses capitais saem daqui mais facilmente diante de sinais de instabilidade ou crise. É arriscado depender muito desse tipo de investimento, sujeito aos famosos "sudden stops", as paradas bruscas, quando há uma reversão nos fluxos de capitais para emergentes.

Não que haja motivo para pânico, já tivemos deficits externos bem maiores. Em 2012, o deficit ainda estará num patamar considerado muito tranquilo por economistas para ser financiado --2,44% .

Mas um dos principais motivos para o aumento disso será a queda no superávit comercial. As exportações devem chegar a US$ 267 bilhões em 2012, com elevação de apenas 4,3% em relação a este ano. Já as importações deverão aumentar 7% e atingir US$ 244 bilhões. O resultado da balança deve cair de US$28 bilhões para US$ 23 bilhões.

Em ano de desaceleração mundial, é normal que as exportações cresçam menos. Mas o país vai sofrer ainda mais porque está cada vez mais dependente de commodities e semimanufaturados, cujos preços oscilam muito conforme o ciclo da atividade econômica. Com os manufaturados desempenhando um papel cada vez menor na nossa pauta de exportação, é hora de repensar o modelo.

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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