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patrícia campos mello

 

12/10/2012 - 03h00

A Índia vai voltar a brilhar

Por muito tempo, dizia-se que a Índia estava condenada à "taxa hindu de crescimento" --o PIB não avançava mais que 3,5%. Isso foi no auge da economia planejada de Jawaharlal Nehru, um dos "pais fundadores" da nação.

Em 1991, depois de uma crise de balanço de pagamentos, o atual primeiro-ministro (então ministro das Finanças) Manmohan Singh orquestrou a grande abertura da economia indiana. "A Índia está brilhando" transformou-se no slogan do país. E os indianos pareciam ter se livrado da maldição da taxa hindu de crescimento.

O país deslanchou com as reformas, que incluíram desregulamentação de vários setores, flexibilização do câmbio --o valor da rupia era atrelado ao dólar-- e redução de tarifas e impostos.

Essas reformas foram o combustível do crescimento acelerado na Índia por muitos anos. Crescimento nos vinte anos entre as reformas de 1991 e 2010 ficou em 6,5%, na média. Mas depois de atingir um pico de 10,1% em 2010, desacelerou para 6,8% em 2011, deve ficar em 4,9% este ano e 6% no ano que vem, segundo as estimativas do FMI. Calcula-se que, apenas para absorver a nova mão de obra que entra no mercado de trabalho, a Índia precise de um crescimento de 8%. Alto déficit do orçamento e inflação são grandes problemas.

O país necessitava urgentemente de um aprofundamento de suas reformas para corrigir problemas como infraestrutura precária, dificuldades para investimento estrangeiro, legislação trabalhista onerosa, setor elétrico sucateado. Mas a percepção era de que havia uma paralisação política e o governo não conseguia avançar com as medidas necessárias.

Neste sentido, foram ótima notícia as reformas anunciadas recentemente por Nova Déli. O governo indiano anunciou a abertura do setor de varejo para grandes empresas estrangeiras, como Wal Mart (anteriormente, só lojas de uma só marca, como Adidas, podiam entrar no país), companhias aéreas, e reestruturação do setor elétrico. Além disso, anunciou a abertura do setor de seguros, mas a medida ainda precisa de regulamentação. A restruturação do setor elétrico era urgente: em julho, o país viveu seu maior apagão, que deixou 700 milhões de pessoas sem luz.

No caso do varejo, foi uma queda de braço de anos com vários Estados, que protestam contra a vinda de estrangeiros, dizendo que eles vão dizimar as pequenas lojinhas tradicionais dos indianos. E os estados ainda podem sair por cima, uma vez que a abertura está sujeita a veto de cada governo estadual, e muitos já anunciaram que vão vetar.

Mesmo assim, é um sinal animador para os investidores.

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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