Publicidade
Publicidade
patrícia campos mello
O Brasil superestimado
O economista Ruchir Sharma causou controvérsia com um artigo que escreveu para a revista Foreign Affairs de maio e junho deste ano, "Bearish on Brazil" (pessimista a respeito do Brasil).
O artigo era um trecho de seu livro "Breakout Nations", que acaba de ser lançado no Brasil como "Os Rumos da Prosperidade", pela Editora Campus. O livro tem um capítulo inteiro sobre o Brasil, em que o autor fala que o país depende excessivamente da exportação de commodities, sofre com taxas de juros altas e um Estado de grande demais.
Conversei com Sharma na semana passada, para uma reportagem sobre a percepção dos investidores estrangeiros sobre o Brasil. No geral, aqueles que aplicam em ações e títulos, não os de longo prazo, de investimento estrangeiro direto, estão decepcionados com o baixo crescimento do PIB, estimado em 1,5% este ano, e o excesso de intervencionismo da presidente Dilma Rousseff na economia.
"O Brasil continua superestimado", disse Sharma, chefe da área de Mercados Emergentes do banco Morgan Stanley, que administra US$ 25 bilhões em ativos em emergentes, sendo 10% disso no Brasil.
Todos os BRICs estão desacelerando, e o Brasil é parte dessa tendência, diz. "Mas o Brasil é a grande decepção, porque tem o menor crescimento --a média dos emergentes deve ficar em 4,5% este ano, e o Brasil, em 2% a 1,5%; a Turquia terá o dobro do crescimento brasileiro."
Segundo Sharma, o Brasil não resolveu uma questão fundamental --o alto custo para fazer negócios e a baixa produtividade no país. "Agora que os preços de algumas commodities começam a cair, vamos ver os efeitos."
O economista diz que o governo não está fazendo nenhuma reforma estrutural, como reduzir a tributação sobre o PIB, está apenas intervindo em bancos, setor elétrico, medidas que não são boas para o investimento. "Isso não é bom para o crescimento no longo prazo", afirma.
"Na América Latina, Argentina e Venezuela tiveram muita intervenção do governo na economia, e suas economias vão mal. Já Colômbia e Peru são bem menos intervencionistas, mais focados em reformas, e tem melhor desempenho. O Brasil não é tão extremo, está no meio, mas se aproxima de Venezuela e Argentina."
No livro de Sharma em inglês, havia alguns erros, que foram corrigidos. Dizia, por exemplo, que o real foi criado durante o governo Collor, em 1994, em vez de Itamar Franco.
Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).
As Últimas que Você não Leu
Publicidade