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patrícia campos mello

 

07/12/2012 - 03h30

Hora de olhar para o Pacífico

Em vez de o governo brasileiro baixar a enésima medida de incentivo na tentativa de ressuscitar a economia, a diplomacia comercial deveria prestar atenção no que está acontecendo agora em Auckland, na Nova Zelândia. Representantes do governo dos Estados Unidos estão reunidos com seus pares do México, Chile, Peru, Cingapura, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Brunei, Malásia e Vietnã negociando a Parceria Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês). O Japão participa como observador e pode se unir ao TPP. As negociações já levam dois anos, mas o governo Obama elegeu a TPP como uma de suas prioridades e os países se comprometeram a concluir as negociações até dezembro do ano que vem. Tratativas estão adiantadas, então não parece se tratar de uma Doha redux.

Se o tratado comercial sair nos moldes ambiciosas em que está se desenhando, o desvio de comércio pode ser enorme para o Brasil. Chile e México já têm livre comércio com os EUA, mas países como o Japão passariam a ter acesso facilitado ao mercado americano, por exemplo.

Nos cálculos de Peter A. Petri da Brandeis University, Michael G. Plummer da Johns Hopkins University SAIS-Bologna e Fan Zhai da China Investment Corporation, em um paper que irão lançar no Peterson Institute for International Economics no dia 19 de dezembro, o TPP vai gerar US$ 130 bilhões a mais por ano, em 2025, para os países participantes.

O tratado não inclui a China e é visto como parte da guinada do governo Obama para a Ásia, como forma de contrabalançar o poder chinês.

A resposta da China é o tratado Parceria Econômica Regional Abrangente, outra iniciativa de abertura comercial na Ásia - essa, sem os EUA. São 16 países, entre eles China, Japão, Índia, Coreia e Austrália. A meta é concluir as negociações em 2015. Mas esse deadline tem mais cara de Doha dia de São Nunca. Está mais fácil Coreia, Japão e China entrarem em guerra por causa de alguma ilhota do que chegarem a um consenso sobre regras de comércio.

A TPP cristaliza a cisão que se formou na América Latina --de um lado, os países menos intervencionistas e antípodas do bolivarianismo, integrantes da Aliança do Pacífico-- Colômbia, Peru, México e Chile. São países que assinaram uma série de tratados de livre comércio com diversos países, estão acelerando suas reformas e têm crescimento do PIB bem superior ao do Brasil. Até o México, que até pouco tempo atrás era visto como primo pobre do Brasil, agora virou queridinho de Wall Street e tem taxas de crescimento superiores.

De outro lado, os países que se aproximam perigosamente de um capitalismo de Estado --Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador, e o Brasil, que pende para essa vertente mais intervencionista nos últimos tempos.

Como disse um diplomata brasileiro: "O Brasil corre o risco de virar síndico do condomínio dos bolivarianos."

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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