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patrícia campos mello

 

28/12/2012 - 03h00

Será que o abismo fiscal é o novo bug do milênio?

A esta altura do campeonato, todo mundo que acompanha as notícias vindas dos Estados Unidos está com aquela sensação de catástrofe iminente. A partir de 1 de janeiro, um conjunto de cortes de gastos do governo e aumentos de impostos vão retirar cerca de US$ 500 bilhões da economia americana, e podem levar o país à recessão, com consequências para o mundo todo.

Segundo previsões do Congressional Budget Office, o crescimento do PIB entre quarto trimestre de 2012 e quarto trimestre de 2013 (com penhasco fiscal) será de --0,5% (negativo)-- diante de 1,7% sem penhasco fiscal. O desemprego, atualmente em 7,7%, saltaria para 9%.

A economia americana já está sofrendo, através do famigerado "canal das expectativas". Diante da incerteza, muitos empresários deixam de investir, ou seja, afeta a confiança, nos alertou Ben Bernanke, presidente do Fed.

Se chegar o dia 1° de janeiro e não houver acordo no Congresso para evitar o abismo, os mercados vão entrar em pânico, o dólar vai despencar, os juros vão subir, etc. etc.

Mas o bicho é tão feio assim?

Sem entrar no mérito da questão sobre os potenciais benefícios de reduzir o deficit do orçamento americano, ainda que na marra, pode-se questionar o tamanho do desastre.

Quem se lembra dos arautos do apocalipse prenunciando a era das trevas e yields recordes depois do rebaixamento dos Estados Unidos no ano passado?

Durante a discussão da elevação do teto da dívida em julho do ano passado (e que, preparem-se, vai se repetir em fevereiro do ano que vem), houve todo um prognóstico negro sobre como a perda da classificação Triplo A dos EUA iria resultar em maiores custos de captação para o país., desaceleração econômica, caos no mercado.

Como se viu, nada disso aconteceu. O yield dos títulos do Tesouro até caiu. Era o famoso --"só tem tu, vai tu mesmo"-- correr para onde, títulos de países europeus?

O que gerou efeitos, isso sim, foi a incerteza que cercou a negociação da elevação do teto da dívida e o consequente downgrade --que também afetaram as expectativas.

Desta vez, acho que teremos o mesmo efeito bug do milênio.

Primeiro, porque dificilmente haverá um impacto total do abismo fiscal. Mesmo que chegue 1 de janeiro e democratas e republicanos não tenho um pacotão de acordo pronto, eles podem criar remendos --adiando a data de expiração dos cortes de impostos de W. Bush, por exemplo.

Outros componentes do abismo fiscal só serão sentidos gradualmente. O corte automático das despesas militares será gradual, até o fim do ano fiscal, em setembro de 2013 --e não tudo de uma vez.

Impostos sobre ganhos de capital e dividendos tampouco teriam efeito imediato.

Não estou dizendo que o abismo fiscal vai ter um efeito espetacular sobre o espírito animal dos investidores e impulsionar o crescimento dos EUA; Mas acho que não é esse bicho papão que estão pintando.

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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