Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Brasil-EUA - tirando um dos bodes da sala
A vitória da Embraer na licitação da Força Aérea Americana (USAF) para a compra de 20 Super Tucanos para missões no Afeganistão elimina um importante irritante nas relações bilaterais Brasil-Estados Unidos.
A Embraer ganhou um contrato de US$ 427 milhões, que pode chegar a US$ 950 milhões, para fornecer as aeronaves usadas em missões de treinamento, reconhecimento aéreo e apoio aéreo.
A primeira licitação vencida pela Embraer, em dezembro de 2011, foi anulada por causa de uma tecnicalidade, em meio a pressões protecionistas. Congressistas do Estado do Kansas, sede da Beechcraft, concorrente da Embraer, fizeram um escarcéu. Lançaram uma campanha de relações públicas pressionando o Departamento de Defesa a dar o contrato para a companhia americana, porque a vitória da Embraer iria "eliminar 1.400 empregos americanos em uma época de recessão" e iria "terceirizar a segurança nacional dos EUA, deixando-a nas mãos de uma empresa estrangeira".
Tudo bem que a Embraer está associada à americana Sierra Nevada e os aviões serão montados em Jacksonville, na Flórida, com enorme conteúdo norte-americano. Mas esse detalhe foi ignorado pelos congressistas.
Sintomaticamente, só depois da eleição presidencial dos Estados Unidos é que saiu o resultado da segunda licitação.
E a vitória da Embraer, além de abrir caminho para a empresa brasileira abocanhar novos contratos de defesa, é boa notícia para a Boeing também.
Embora Donna Hrinak, presidente da Boeing no Brasil e ex-embaixadora dos EUA no país, insista em dizer que "trata-se de duas licitações separadas", não há dúvidas que o protecionismo contra a Embraer pesava contra a tentativa da Boeing de vencer o contrato de venda de caças para a Força Aérea Brasileira. A Boeing concorre com a francesa Dassault e a sueca Saab por um contrato que pode chegar a US$ 4 bilhões.
A compra dos caças continua em banho maria, não é prioridade da presidente Dilma neste momento. Mas a Boeing fica bem mais cacifada, como deixou claro uma fonte do governo brasileiro em entrevista à Folha.
Além disso, a Boeing está colaborando com a Embraer para a venda do cargueiro KC-390, que irá concorrer com o C-130 da Lockheed Martin.
Um bode a menos na sala.
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