Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Milhares de crianças "ilegais" detidas em bases americanas
A saia justa envolvendo a espionagem americana no Brasil era o menor dos problemas do vice-presidente Joe Biden em sua visita à América Latina. Hoje, Biden está na Guatemala, parada que foi acrescentada de última hora à viagem, para discutir o que a Casa Branca já chama de crise humanitária: a explosão no número de crianças sozinhas imigrando ilegalmente para os EUA.
Biden se encontraria hoje com o presidente da Guatemala, Otto Perez Molina, o de El Salvador, Sanchez Ceren e altas autoridades de Honduras e México para debater o aumento no número de menores desacompanhados cruzando a fronteira do México com ajuda de coiotes.
Segundo o Departamento de Segurança Interna, desde outubro do ano passado, 52 mil menores desses três países entraram sozinhos e ilegalmente nos EUA. Em 2011, foram menos de 4 mil.
As bases para alojá-los nos EUA estão lotadas: o governo não tem advogados suficientes para representar os menores nos processos de deportação.
A Casa Branca anunciou ontem que vai construir novos locais para abrigar as crianças. Os menores que têm parentes nos EUA (muitas vezes, os pais imigraram ilegalmente e pagam para que coiotes tragam os filhos) são liberados após alguns dias. Mas essas crianças serão sujeitas a processo e deportação da mesma maneira que adultos.
Uma reportagem do NYT mostra a situação em uma base no Arizona que abriga as crianças e adolescentes pegos após atravessarem a fronteira dos EUA com o México - agentes da polícia ficam lá de "babá", há uma enorme dificuldade para lidar com essas crianças.
Os pais em El Salvador, Guatemala e Honduras, desesperados com a violência das gangues e falta de perspectiva para os filhos, pagam coiotes para levar as crianças e adolescentes até os EUA. O salto na imigração se deu também por causa do boato de que, uma vez em território americano, crianças seriam automaticamente legalizadas.
A missão de Biden na Guatemala era deixar claro que "deixar seu filho nas mãos de uma organização de tráfico de pessoas não é seguro e que essas crianças não ganharão cidadania."
Hoje, a Casa Branca anunciou uma série de medidas para lidar com a crise das crianças ilegais: mais advogados para cuidar dos processos de deportação, mais centros para abrigar crianças e famílias ilegais, e ajuda financeira para Honduras, Guatemala e El Salvador combaterem o crime.
Mas o governo guatemalteco esperava que os EUA oferecessem maior segurança para os menores que atravessam a fronteira. No trajeto, muitos sofrem violência ou são estuprados.
O chanceler da Guatemala, Fernando Carrera, disse que iria pedir a Biden vistos temporários para os menores ilegais, para que eles não tivessem de retornar ao país, onde enfrentam o perigo das gangues.
O governo Obama tem rechaçado esses pedidos.
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