Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
O Brasil finalmente acordou para o ebola
Demorou, mas finalmente o governo brasileiro resolveu dar uma contribuição para o combate ao ebola à altura de suas ambições diplomáticas no continente africano (e, obviamente, mais condizente com a gravidade da
epidemia).
O Itamaraty anunciou a doação de R$ 25 milhões para o combate da epidemia de ebola na Guiné-Conacri, na Libéria e em Serra Leoa. A OMS recebeu 50% do montante; 26% foram destinados ao Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR); cerca de 18%, ao Programa Mundial de Alimentos (PMA), para arcar com o transporte das doações de feijão e arroz já oferecidas pelo Brasil e 6% para a Missão das Nações
Unidas de Resposta Emergencial ao Ebola (UNMEER).
Até pouco tempo atrás, o Brasil havia doado apenas R$ 1 milhão (menos de US$ 500 mil) para o combate à epidemia. A Venezuela havia doado US$ 5 milhões e a Suíça, US$ 7 milhões. Estados Unidos e Reino Unido
fizeram doações na casa das centenas de milhares de dólares.
O país foi alvo de críticas da Oxfam, que divulgou um comunicado há duas semanas apontando para a falta de engajamento de países do G20 no combate ao Ebola - segundo a Oxfam, o Brasil, a Índia, México e Rússia
deveriam estar doando muito mais, e Argentina, Indonésia, Turquia e Arábia Saudita não doaram nada.
Mas apesar de o Brasil ter acordado para a magnitude da emergência e necessidade de colaboração, o país poderia estar fazendo muito mais. O Brasil é referência em combate a doenças infecciosas e poderia enviar
infectologistas para ajudar os países africanos, como fez Cuba.
Os Médicos Sem Fronteiras, organização mais envolvida no combate à epidemia, comemorou a liberação de recursos do Brasil, mas lamentou "que a contribuição não tenha sido feita mais cedo, e que não tenha incluído
recursos humanos e equipamentos, conforme apelos feitos pela organização tanto no nível internacional quanto nacional. MSF espera que o Governo brasileiro se mantenha aberto para novas contribuições, dada a escala e
a imprevisibilidade desta epidemia."
A epidemia de ebola, que já infectou 17290 pessoas e matou 6128, está longe de estar controlada.
A situação está melhorando na Libéria, o país mais atingido, onde houve desaceleração no número de infecções. Na Guiné-Conacri, o país menos afetado, também houve grande queda no número de infecções, e só há
focos em vilarejos isolados na selva. Mas Serra Leoa desperta grande preocupação, porque o índice de infecção ainda está crescendo.
E no Mali a situação é preocupante. Oito pessoas foram infectadas e seis morreram, mas calcula-se que mais de 500 tiveram contato com um clérigo que morreu de ebola e o trabalho de monitorar e isolar essas pessoas é
virtualmente impossível em um país instável como o Mali.
A Organização Mundial de Saúde já não trabalha mais com o cenário pesadelo, em que estimava até 1 milhão de contaminados. Mas, com o novo foco de ebola do Mali, a OMS acredita que a epidemia não será controlada
antes de julho de 2015.
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