Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Ataque inaugura nova fase de atuação da facção terrorista
Os ataques de Paris inauguram uma nova fase na atuação do Estado Islâmico e colocam em xeque a estratégia dos países ocidentais contra a facção terrorista.
Antes, os islamistas eram focados em atentados menores a indivíduos ocidentais (o jornalista americano James Foley, que foi decapitado) ou grupos de "infiéis" (xiitas, cristãos, yazidi) dentro do Oriente Médio.
Agora, os extremistas passam a apostar em ataques grandiloquentes, como a Al Qaeda em seu período de "glória", quando perpetrou os atentados do 11 de Setembro.
A mensagem é clara: vão retaliar todos que se puserem no caminho do "califado", na Síria e no Iraque.
Segundo mensagem do grupo publicada em árabe e francês em contas de redes sociais de apoiadores da facção, os locais foram "escolhidos cuidadosamente" e os ataques foram "os primeiros de uma tempestade".
Pouco tempo depois de a Rússia aumentar sua participação na guerra da Síria, o EI reivindicou a explosão de avião da empresa russa Metrojet, que caiu no Egito com 224 pessoas a bordo.
Quatro dias depois de caças franceses bombardearem um centro de distribuição de petróleo do EI na Síria, a França foi alvo do sangrento atentado terrorista.
Segundo especialistas, foi um ataque muito bem planejado, com um bom tempo para treinamento e financiamento, o que normalmente não é a marca do EI, que usa mais "atiradores solitários".
E pior: a grandiloquência dos ataques funcionará como um ímã para potenciais extremistas se juntarem ao EI.
Nesta sexta (13), em uma declaração que será eternizada pela infelicidade do timing, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que a estratégia da coalizão contra o EI "conseguiu conter" a facção terrorista.
Não apenas não conseguiu conter, como transformou os países da coalizão em alvos fáceis de atentados.
No curto prazo, devemos esperar que EUA, França e Alemanha aprofundem a tendência de considerar o ditador sírio, Bashar al-Assad, um mal menor e concentrem suas forças contra o EI.
No médio prazo, os ataques podem acabar de destroçar o espaço Schengen, que permite livre trânsito de pessoas na UE.
E os refugiados devem ser alvo de uma dose ainda maior de xenofobia. Foi encontrado um passaporte sírio ao lado do corpo de um dos homens-bomba no estádio de Paris. Não adianta explicar que a maioria dos sírios também é vítima do terrorismo, assim como os franceses.
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