Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Animosidade marca a Washington da véspera da posse de Donald Trump

Crédito: Paul J. Richards/AFP Manifestantes seguram cartazes em frente ao Deplorable Ball, promovido pela extrema direita dos EUA
Manifestantes seguram cartazes em frente ao Deplorable Ball, promovido pela extrema direita dos EUA

Na manhã desta quinta-feira (19), um grupo de motociclistas sessentões em suas Harley-Davidson com bandeiras pró-Trump interromperam o trânsito no centro de Georgetown, bairro que é a quintessência de Washington.

Algumas pessoas na calçada vibravam e aplaudiam. Mas a grande maioria torcia o nariz para os forasteiros, enquanto tirava fotos fazendo comentários jocosos.

"Não poderíamos estar mais felizes com Trump presidente; temos gente que veio de moto do Texas, Arizona, Florida, Pensilvânia, Ohio", disse em entrevista postada nas redes sociais Chris Cox, presidente do grupo BikersForTrump (Motociclistas por Trump), que fará uma marcha celebrando a posse.

"Se necessário, faremos uma 'parede de carne' " para evitar que manifestantes atrapalhem a posse", disse.

Do outro lado da rua, mulheres faziam fila para alugar vestidos de gala para os famosos bailes da posse.

Os mais cobiçados são os dois eventos oficiais, o Baile da Liberdade e o Baile para as Forças Armadas, que contam com a presença do presidente e seu gabinete, ou aqueles organizados pelas seções estaduais dos partidos que ganharam.

Mas dentro da loja de roupas, grande parte das mulheres provava vestidos para ir ao Baile da Paz, um evento anti-Trump que se propõe a celebrar os últimos quatro anos de governo Obama e manter vivas as "vozes de esperança e resistência".

Entre os convidados, a ex-integrante dos Panteras Negras Angela Davis, as cantoras Solange (irmã de Beyoncé) e Esperanza Spalding, a escritora Alice Walker (vencedora do Prêmio Pulitzer), a estilista Donna Karan, a editora da revista de esquerda The Nation , Katrina vanden Heuvel ( a capa desta semana, aliás , tem o titulo o povo contra o presidente).

Em Washington, a animosidade está no ar. Apenas 4,1 % dos eleitores da capital americana votaram em Trump na eleição de novembro.

Por isso, a população da capital reage com mau humor ou resignação às milhares de pessoas da América real que chegam para as celebrações da posse (a não ser aquelas que vêm para a marcha das mulheres contra Trump, no dia 21). Quase 60 legisladores democratas anunciaram que vão boicotar a posse.

Na sede dos quakers em Washington, uma faixa admoesta: "Love Thy Neighbor - No exceptions" (Ame o próximo, sem exceções).

A faixa faz parte de uma campanha contra a crescente polarização política.

Os quakers são um movimento protestante que surgiu no século 17 na Inglaterra e se notabilizou por pregar a solidariedade, pacifismo, abstinência de álcool e oposição á escravidão.

Lá se vão sete meses desde que os quakers iniciaram sua campanha de tolerância. Mas está cada vez mais difícil promover essa reconciliação dos "vizinhos".

DEPLORÁVEIS

A polarização política em Washington ficou evidente durante o protesto de centenas de pessoas em frente ao DeploraBall, o Baile dos Deploráveis.

Na frente do National Press Building, onde se realizava o baile, manifestantes gritavam "racistas" para apoiadores de Trump e queimavam os bonés vermelhos com os dizeres "Make America Great Again", usados por Trump e seus eleitores.

Eles levaram um gigantesco elefante inflável com a palavra racismo escrita (o animal é símbolo do Partido Republicano).

O DeploraBall reuniu a nata da direita digital que apoiou Donald Trump. O nome "DeploraBall" une a palavra deploráveis, usada pela ex-candidata democrata Hillary Clinton para se referir aos eleitores de Trump, e Ball (Baile).

O evento iria reunir supremacistas brancos como Richard Spencer e Jared Taylor, e personalidades da internet de extrema-direita, como Mike Cernovich, um dos organizadores.

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