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patrícia campos mello
O 'Plano de Empregos' eleitoral de Obama
Foi uma tentativa de usar um grande discurso, evocando a retórica inspiradora de sua campanha em 2008, para tentar virar o jogo no debate econômico.
Para lançar sua grandiosa Lei de Empregos Americanos, o presidente Barack Obama usou um discurso para uma sessão conjunta do Congresso, reunindo os integrantes da Câmara e do Senado. Trata-se de uma ocasião solene --só ocorre na posse de presidentes, nos discursos anuais sobre o estado da União, falas de grandes líderes estrangeiros e algumas pouquíssimas situações especiais.
Obama foi agressivo e exortou 18 vezes os membros do Congresso a aprovarem sua Lei de Empregos de US$ 447 bilhões.
Ele continua apostando em seu poder de oratória, que foi um dos trunfos que o alçou à presidência dos EUA.
"Esse plano de empregos vai dar um chacoalhão em uma economia que está paralisada", prometeu Obama.
Mas nota-se certa 'fadiga de discurso' no público americano. E ceticismo em relação à eficácia em qualquer coisa que o presidente possa fazer para resgatar do desemprego 14 milhões de americanos.
Pesquisas recentes mostram que é cada vez maior a falta de fé do americano na habilidade de Obama de lidar com a economia.
Um levantamento da NBC/Journal mostra que 37% dos entrevistados acham que as políticas de Obama prejudicam a economia, enquanto 39% acreditam que elas não fazem diferença.
É gente como Simon Rucker, coordenador de mídia no escritório de advocacia Schreck Rose Dapello Adams & Hurwitz, em Nova York. Ele e Sam Lambert, gerente de new media, são um casal de classe média que luta para viver em uma cidade cara e criar o filho Jonah, de 2 anos.
"Obama é um ótimo autor de discursos e orador; mas os problemas não vão ser resolvidos da noite para o dia e não há muito que possa mudar imediatamente", diz Simon.
Simon é independente - não é registrado como democrata ou republicano. Ele foi um eleitor entusiasmado de Obama em 2008.
Agora, define-se como "cauteloso". "Obama não tem me impressionado nos últimos tempos", diz Simon. "Eu espero que essa lei empregue muita gente em obras de infraestrutura e consertando escolas, e tomara que pequenas empresas se animem a contratar por causa das reduções de impostos --eu vou ganhar essa isenção de US$ 1500. Também é positivo que ele esteja prorrogando o seguro desemprego."
Mas, para Simon, "há milhões de pessoas que provavelmente nunca mais vão achar um emprego".
É esse tipo de desalento que contamina a classe média americana.
Os republicanos já anunciaram que vão fatiar a proposta de US$ 447 bilhões e só aprovar o que lhes é palatável.
Eles demonstraram apoio moderado aos cortes de impostos, à reforma de seguro desemprego e ao programa que subsidia empregadores que contratam pessoas desempregadas há muito tempo, inspirado em um bem-sucedido piloto feito na Geórgia. Ah, e obviamente querem a aprovação dos acordos de comércio pendentes com Coreia do Sul, Panamá e Colômbia, barrados pela bancada democrata. Mas os republicanos deixaram claro que não estão nem um pouco dispostos a aprovar as medidas de gastos do governo para gerar empregos, como construção de estradas e outras obras.
De qualquer maneira, há muito ceticismo em relação à eficácia das medidas. Muitos economistas acreditam que os cortes de impostos são pequenos demais para surtir efeito.
E programas como os US$ 55 bilhões para reformar escolas e casas em áreas afetadas pela crise de hipotecas deixam uma desagradável sensação de déjà vu.
No ultimo pacote de estímulo, a Califórnia recebeu US$186 milhões em recursos para reformas e impermeabilização de casas. O programa só gerou o equivalente a 538 empregos.
Mas caso os republicanos vetem a maior parte do pacote, certamente isso será usado por Obama na campanha: o partido que não quis aprovar um pacote de geração de empregos. Ou seja, não se sabe se a Lei de Empregos será eficaz para gerar empregos para os 14 milhões de desempregados americanos --mas Obama quer pelo menos usar essa lei na campanha para garantir o seu emprego.
Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).
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