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paul krugman

 

11/06/2012 - 16h25

Um novo resgate aos bancos

DE SÃO PAULO

Nossa... Mais um resgate a bancos, desta vez na Espanha. Quem poderia ter previsto?

A resposta, claro, é "todo mundo". Na verdade, essa história toda começa a parecer uma cena de comédia: uma vez mais a economia está tropeçando, o desemprego dispara, os bancos se encrencam, os governos correm em socorro -mas de algum modo apenas os bancos são beneficiados pelo resgate, e não os desempregados.

É bom esclarecer que os bancos espanhóis de fato precisavam de resgate. A Espanha estava claramente à beira de um ciclo destrutivo, um processo bem conhecido sob o qual preocupações quanto à solvência dos bancos os forçam a vender ativos, o que causa queda nos preços dos ativos e assim gera ainda mais preocupação quanto à solvência das instituições. Os governos têm a capacidade de impedir que esses ciclos se desenvolvam por meio de injeções de capital; mas no caso a solvência do governo espanhol está em questão, e por isso o dinheiro precisa vir de um fundo europeu mais amplo.

Portanto, não há nada de necessariamente errado quanto ao mais recente resgate (se bem que muita coisa dependa dos detalhes). O que espanta, porém, é que no exato momento em que os líderes europeus estavam montando esse pacote de socorro estavam também sinalizando fortemente que não têm a intenção de mudar as políticas que conduziram quase um quarto dos trabalhadores espanhóis ao desemprego -o que sobe a mais de 50% entre os jovens.

O mais importante é que na semana passada o Banco Central Europeu se recusou a cortar as taxas de juros. Era uma decisão previsível, mas isso não deveria nos levar a ignorar que se trata de uma escolha profundamente bizarra. O desemprego na zona do euro disparou, e todos os indicadores apontam para uma nova recessão no continente. Enquanto isso, a inflação está em queda e as expectativas do mercado quanto à inflação futura despencaram. Sob as regras usuais de política monetária, a situação exigiria um corte agressivo nos juros. Mas o banco central se recusa a agir.

E não estou nem incluindo no cômputo o risco crescente de um racha no euro. Há anos a Espanha e os demais países em crise vêm ouvindo que só podem se recuperar por meio de uma combinação de austeridade fiscal e "desvalorização interna", o que significa basicamente um corte de salários. Agora está completamente claro que essa estratégia funcionará sem forte crescimento e, sim, uma dose moderada de inflação no "núcleo" europeu, especialmente a Alemanha -o que oferece motivação adicional para manter baixos os juros e imprimir muito dinheiro. Mas o banco central se recusa a agir.

Enquanto isso, autoridades governamentais vêm afirmando que austeridade e desvalorização interna funcionariam, desde que as pessoas acreditassem de verdade que são necessárias.

Considere, por exemplo, o que Jörg Asmussen, representante alemão no conselho executivo do Banco Central Europeu, acaba de declarar na Lituânia, que se tornou o grande exemplo de um programa de austeridade supostamente bem sucedido. (Até recentemente, o modelo era a Irlanda, mas a economia irlandesa continua recusando a se recuperar.) "A diferença essencial entre, digamos, a Lituânia e a Grécia", afirmou Asmussen, "está no grau de aceitação nacional do programa de ajuste -não apenas pelas autoridades do país mas entre a população em geral".

É o modelo Darth Vader de política econômica. Asmussen na verdade está dizendo aos gregos que "sua falta de fé me perturba".

Oh, e o suposto sucesso da Lituânia consiste de um ano de bom crescimento depois de um declínio digno da Grande Depressão nos três anos precedentes. Crescer 5,5% é de fato bem melhor que nada. Mas vale recordar que a economia dos Estados Unidos cresceu quase o dobro disso -10,9%!- em 1934, ao se recuperar do pior momento da Grande Depressão. No entanto, a Depressão estava longe de encerrada.

Se somarmos todos esses elementos, o quadro é o de uma elite política europeia sempre pronta a entrar em ação em defesa dos bancos mas completamente indisposta a admitir que suas políticas estão fracassando em socorrer o povo a que a economia supostamente deve servir.

Mas será que nossa situação é muito melhor? A perspectiva de curto prazo dos Estados Unidos é menos sombria que a da Europa, mas as projeções do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), indicam inflação muito baixa e desemprego muito elevado pelos próximos anos -exatamente as condições sob as quais o Fed deveria estar entrando em ação para estimular a economia. Mas o Fed não se mexe.

O que explica essa paralisia transatlântica diante do desastre econômico e humano que continua a se desenrolar? A política certamente é parte da explicação -não importa o que digam os dirigentes do Fed, eles foram claramente intimidados pela advertência de que adotar uma política expansiva seria visto como socorro ao presidente Barack Obama. Outro fator é uma mentalidade que vê o sofrimento econômico como redentor, algo que um jornalista britânico certa feita definiu como "sado-monetarismo".

Quaisquer que sejam as raízes profundas dessa paralisia, está se tornando mais claro que será necessária uma completa catástrofe para gerar ação política que vá além do resgate aos bancos. Mas não se desespere: ao ritmo atual, especialmente na Europa, a catástrofe pode estar bem próxima.

Tradução de Paulo Migliacci

paul krugman

Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.

 

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