Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Pedro Diniz

Responsável pela nova imagem da "Vogue" italiana desde a morte da editora Franca Sozzani, Giovanni Bianco luta contra o que chama de "geração da repetição", uma nova juventude conservadora que ameaça transformar o mundo em "algo genérico, sem autenticidade".

Um dos diretores criativos mais badalados da indústria da moda, é dele a concepção criativa dos últimos álbuns de Madonna, de campanhas como as da grife Miu Miu, do videoclipe "Sua Cara", das cantoras Anitta e Pabllo Vittar, e também do novo projeto da grife carioca Animale, o curta-metragem "Oitavo", dirigido e roteirizado por ele.

Lançado neste mês, no Rio, o curta é narrado pelo ator Bruno Gagliasso e traz no elenco atrizes como Mariana Ximenes, Juliana Paes, Bruna Marquezine e Carolina Dieckman representando diversas personalidades femininas.

 

Até agora, o filme tem mais de 1,2 milhão de visualizações no YouTube, feito inédito para uma marca de moda nacional. Segundo a diretora de marketing da grife, Mônica de Souza, um novo filme, com uma história diferente, será lançado no segundo semestre de 2018.

O projeto é a primeira incursão formal de Bianco no cinema, linguagem que ele acredita ser um dos novos braços do conteúdo de moda em um sistema "que não se resume mais a apenas edições impressas". Leia entrevista.

 

Qual foi o impacto das novas mídias no conteúdo editorial de moda?
Transformar formatos bidimensionais em luxo. Não se pode mais negar que os jovens consomem conteúdo pelo celular, então o videomobile e as redes sociais viraram a porta de entrada da mídia de moda. A imagem em movimento tem sido uma luz no que diz respeito à narrativa de moda, porque podemos contar histórias e passar mensagens que a imagem estática, que é minha escola, não pode. Pelo lado positivo, você emprega mais muito mais quando usa o cinema na criação de conteúdo.

Mas o formato revista perdeu importância?
De forma alguma, porque o material impresso é o grande cartão de visitas da moda. As revistas que oferecerem conteúdo imagético e editorial de qualidade não vão acabar, mas terão de criar uma plataforma digital consistente, porque engaja muito mais e dá uma visão de 360º para os jovens, que, no fim das contas, são a voz da realidade e do comportamento de hoje.

E qual seria esse comportamento?
A moda passa por uma fase de dor, que não necessariamente é negativa. Ela está mudando, e isso mexe com a indústria. Há um interesse pelas peças de rua, uma mudança como a do pós-guerra, quando as pessoas passaram a usar franjas para festejar o fim do conflito, ou na criação do estilo barroco italiano em resposta ao minimalismo japonês. O "streetwear", nesse contexto, ganha relevância e tem um reflexo imediato nas roupas, mais urbanas, e no comportamento de compra, com uma consciência muito maior sobre o preço das coisas.

Mas há lugar para criação genuína nesse ambiente de medo das mudanças?
Não é um momento fácil, porque está todo mundo sensível a tudo. Gasta-se muito tempo pensando nisso, sobre como não fazer algo agressivo aos olhos das pessoas e não questioná-las de forma mais profunda. A verdade é que há uma caretice muita chata, fruto de uma geração de repetição, aquela que reproduz tudo o que já foi feito e não se aprofunda nas coisas. Aquela que lê um título e não lê o conteúdo das coisas, repetindo qualquer asneira que escuta ou vê nas redes sociais. Tenho medo disso porque parece que a todo momento estamos andando para trás, então quem trabalha com criação para um público diverso tem de ser dez vezes mais esperto para conseguir passar mensagens palatáveis sem ser genérico. Não suporto coisas genéricas.

Então, para você, o cinema seria uma forma de se comunicar sem ser genérico?
Sem dúvida. Profissionais de moda podem levar um olhar mais estético à narrativa cinematográfica. [O estilista diretor de "Animais Noturnos" e "Direito de Amar"] Tom Ford é um exemplo. No dia em que eu fizer um longa-metragem, que é um dos meus sonhos, sem dúvida haverá uma preocupação muito maior com a questão da imagem. Não fiz filme antes porque levo meu trabalho tão a sério que não me sentia preparado para fazer. Agora que fiz, quero fazer muito mais.

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