É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
O circo do futebol
O Internacional entra no Brasileirão invicto há dezesseis partidas, a maior série sem derrotas entre os 20 clubes da Série A. Abaixo dele, quem não perde há mais tempo é o Vasco: seis jogos. Oscilar é um dos verbos mais conjugados entre os clubes do Brasil, e esta é uma das razões para a dificuldade de se apontar o favorito do campeonato que começou neste sábado (9).
O maior patrimônio do Brasileirão não é sua qualidade técnica, mas sua imprevisibilidade. Na Espanha é fácil dizer Barcelona ou Real Madrid, na Itália anda simples cravar a Juventus campeã e isso vale para o Bayern na Alemanha. Mais difícil descobrir se o campeão inglês será o Chelsea, o Manchester United, o City, o Arsenal ou Liverpool.
Aqui é difícil acertar até quando se afunila a análise entre os que investiram melhor: Internacional, Atlético-MG, Cruzeiro, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos... O Flamengo está fora da lista, como estava em 2009 –e naquele ano foi o campeão!
O equilíbrio está relacionado às exportações dos melhores jogadores. Por isso, há trinta anos, repete-se o chavão de que a disputa está nivelada por baixo. Não está.
Essa percepção aumenta quando se tenta comparar os clubes do Brasil com os gigantes da Europa.
É outro mundo!
O futebol está dividido em três andares. No degrau de cima, os milionários, capazes de montar seleções mundiais para disputar a Champions League. Parece a velha F-1, quando só Ferrari e McLaren lutavam pelas conquistas.
O circo do futebol percorre a Europa e as estrelas têm diversas nacionalidades, mas vestem camisas exclusivas como no velho circo da F-1: Chelsea, Manchester United, Manchester City, Real Madrid, Barcelona, Bayern. Nos últimos anos, houve sempre uma surpresa na semifinal, mas nunca com o troféu. Aconteceu com Borussia Dortmund, Atlético de Madrid, Schalke e Lyon.
O segundo andar tem os times que se conformam em disputar a Liga Europa. "Nossa vocação é essa", admite o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. É o caso do Sevilla, prestes a disputar sua quarta decisão em dez anos.
Comparar o Brasileirão é covardia. Justo é ponderar se está no nível dos campeonatos médios, da França, Holanda, Portugal e Argentina.
Fazer o Brasileirão ser mais forte do que é exige trabalho. Durante anos, julgou-se que aplicar a fórmula dos pontos corridos resolveria tudo. Não resolve. Há quem jure que a volta do mata-mata é a solução. Também não é. Há 25 anos, a Premier League era um torneio medíocre. Demorou dez anos para ser o maior campeonato nacional do planeta, administrado como produto que ofereceria mais a seus clientes ano após ano. Lá, tudo é melhor, tudo deve ser copiado.
Eles só não têm a imprevisibilidade daqui.
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