É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
Entre a cruz e a espada
Carlos Miguel Aidar foi o presidente da aglutinação do São Paulo entre 1984 e 1988, até o dia em que anunciou Juvenal Juvêncio como candidato à sua sucessão. O ex-presidente Antônio Leme Nunes Galvão não aceitou e foi para as eleições na oposição. Perdeu para Juvenal por um voto. Voltou dois anos mais tarde e fez sua chapa vencer as eleições para o Conselho Deliberativo.
Na prática, significava ser o novo presidente, mas Galvão renunciou à ideia e indicou José Eduardo Mesquita Pimenta para seu lugar.
Aconteceu em 1990, e o resultado daquele racha é conhecido. O São Paulo fez campanha ridícula no Paulistão e até hoje dá margem às gozações dos rivais por um suposto rebaixamento, que só não houve de fato, porque o regulamento da federação dizia: "não haverá descenso."
Só agora, 25 anos depois, o São Paulo voltou a ter situação política tão dividida. Aidar está entre a cruz e a espada. Ou melhor, entre Abílio Diniz e Juvenal Juvêncio.
Há um ano, quando discutiu e afastou Juvenal da diretoria, Aidar dizia que o serviço da dívida consumia muito dinheiro em juros. Quando ouviu a observação de que o débito era menor do que o de Palmeiras e Corinthians, respondeu: "O São Paulo não está acostumado com isso."
A situação parecia muito grave.
Há duas semanas, disse ter sido induzido a julgar que o São Paulo deve R$ 270 milhões, quando o número certo seria R$ 137 milhões. Diz que tudo estará equilibrado até 2017, mas a oposição segue alertando sobre os R$ 8 milhões mensais com o serviço da dívida.
Dois diretores afastados falaram nesta semana sobre suas dificuldades com Aidar. O ex-CEO Alexandre Bourgeois afirma ter sido boicotado e ameaçado na reunião que definiu sua demissão. Ele foi indicado por Abílio Diniz.
O ex-gerente, Gustavo Oliveira, afirmou ao Lance! ter se sentido fritado. O grupo de Aidar lembrava ter sido sócio de um amigo de Juvenal.
Abílio Diniz não participa da vida política como se imagina, mas gosta de futebol, de seu clube e da ideia de transformar o futebol brasileiro. Sua influência é boa, não nociva. Só é preciso saber ouvir.
Sobre Juvenal, o ex-presidente está na história. O Aidar estadista dos anos 80 não enxergaria problema em nenhum dos dois lados.
Há o meio termo entre a visão de que a dívida estará equacionada em 2017 e a dos que enxergam o risco de perder o Morumbi pelos juros.
Aidar conhece bem a história do São Paulo da Floresta, que comprou uma sede suntuosa na rua Conselheiro Crispiniano, nos anos 30, e desapareceu ao fundir-se com o C.R. Tietê. Foi o que matou o velho tricolor e fez nascer o novo, com o mesmo nome, cores e uniforme.
No século 21, o São Paulo não tem o direito de correr o mesmo risco. Nem de ser menos do que sempre foi.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade