É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
Olê, Telê! Olê, Tite!
Vai ser simbólica a chegada da seleção ao Centro de Treinamento do Corinthians nesta segunda-feira (9), para se preparar para os jogos contra Argentina e Peru. O virtual campeão brasileiro tem um técnico para quem a palavra-chave do futebol é "mérito". Joga quem está melhor, isso cria confiança no elenco e na torcida que, junto com a crítica, definem Tite como o mais bem preparado treinador do Brasil.
Dunga é diferente. Foi contratado pela CBF, pela primeira vez, sem jamais ter sido treinador. A segunda escolha, ano passado, aconteceu nove meses depois de ser demitido do Inter, décimo colocado no Brasileirão.
Dunga chegará na segunda ao lugar onde Tite está. Deveria ser exatamente o contrário.
Tite não tem nada a ver com Telê Santana, exceto ter sido campeão mundial pelo Corinthians e Telê pelo São Paulo. A distância é tão grande que Telê chegou à seleção pela primeira vez por causa de um grande trabalho em um clube. Por mérito.
Em 20 dias, entre novembro e dezembro de 1979, o Palmeiras de Telê fez 5 x 1 no Santos, 5 x 1 na Portuguesa, 5 x 1 no Comercial, 4 x 0 no São Bento. O ponto alto foi seu encontro com o então treinador da seleção. No dia 9 de dezembro de 1979, o Palmeiras de Telê fez 4 x 1 no Flamengo, de Cláudio Coutinho, no Maracanã.
No início de 1980, a CBF lhe fez o convite.
Criou-se em pouco tempo a última grande simbiose entre a torcida e o time nacional. Isso porque havia fatores no início dos anos 80 que desapareceram do cotidiano. A seleção jogava dentro do país e a cada mês em uma cidade diferente.
Durante dois anos, da estreia de Telê até a Copa da Espanha, Cerezo, Sócrates e Zico foram aplaudidos e vaiados por cariocas, mineiros, paulistas, gaúchos, mato-grossenses, goianos, cearenses, baianos, potiguares e maranhenses.
O que Tite tem e Dunga não tem é a capacidade de mostrar ao país que a seleção é nossa. Ninguém acha que vai haver a excursão pelo país daquele tempo, porque os compromissos comerciais são diferentes.
Também não vai haver jogadores do Flamengo e do Corinthians vestidos de amarelo para enfrentar a Argentina, porque Neymar joga pelo Barcelona. Mas há uma reforma de imagem absolutamente indispensável para a seleção voltar a ser dos brasileiros.
Ela não passa por Tite.
Mas passa pela percepção de que só o mérito leva aos postos mais altos.
Dunga fala com Carlo Ancelotti tanto quanto Tite falou no ano passado. É justo pensar que em alguns meses, com sequência de trabalho, seja possível ver a seleção jogando bem. Assim como é possível que uma hipotética eliminação na Libertadores de 2016 tire de Tite a unanimidade atual.
Se tudo isso acontecer, na contramão do que está à nossa vista, talvez daqui a seis meses não exista alguém tão capaz de demonstrar para o Brasil que estudar, conversar e observar o que há de mais moderno no mundo, na sua área de atuação, é o que faz chegar ao cargo mais importante.
O Corinthians enfrentou o Coritiba no sábado (7). Neste domingo (8) assiste ao Atlético e logo vai comemorar.
A seleção começa a trabalhar para jogar bem contra a Argentina e deixar claro que pode ser tão competitiva quanto já foi. Mas o dilema não é só esse. Até Alex Ferguson já disse que não se preocupa com os 7 x 1. Se fosse brasileiro, estaria preocupado por não ver o Brasil ser Brasil.
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