É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
O embrião da mudança
A reunião de semana passada para discutir a Liga Sul-Americana registrou dois fatos marcantes. O primeiro foi a volta do São Paulo à posição de protagonista político. O Morumbi foi escolhido como sede do encontro, por sua estrutura, mas também porque o clube impôs a si mesmo o papel de anfitrião.
Fundador do Clube dos 13 em 1987, o São Paulo não se colocava à frente de grandes movimentos de clubes desde a atuação de Juvenal Juvêncio para fazer Fábio Koff ganhar a briga conta a CBF, na eleição para a presidência do Clube dos 13, em 2010.
Nunca mais!
"Este encontro foi um momento de união dos clubes para a criação da Liga Sul-Americana, mas temos um ruído aí", afirma o presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.
Os presidentes do Boca Juniors, River Plate, Nacional e Peñarol pisaram no maior estádio paulista e foram os primeiros a perceber o segundo fato relevante do encontro. Os 12 maiores times brasileiros estavam representados e absolutamente unidos em questões decisivas sobre a reforma da Libertadores.
O tal ruído é um ponto sobre o qual os clubes brasileiros não abriram mão: a sede da nova Liga Sul-Americana ser na cidade de São Paulo. Argentinos e uruguaios deixaram o país acusando o Brasil de arrogância, mas a intransigência foi um símbolo de unidade. Foi a primeira vez desde a ruptura do Clube dos 13 que 12 dirigentes juntos fecharam questão sobre alguma coisa.
Ter a sede da Liga Sul-Americana na maior cidade da América Latina é um símbolo, para eles, de que não haverá uma estrutura política similar à da Conmebol. A nova liga tem de ser moderna. Estar na cidade que mais movimenta dinheiro no continente é emblemático.
Mesmo que o projeto não avance em relação à Libertadores, o embrião de unidade dos 12 clubes pode levar a decisões sóbrias sobre o projeto mais relevante.
O maior campeonato da América Latina precisa ser o Brasileiro. A discussão sobre como ter a Libertadores mais organizada e rentável sempre vai esbarrar na incapacidade dos países mais pobres, como Peru e Bolívia, de se adequarem às condições necessárias para ter uma Champions League da América.
O Campeonato Brasileiro, não. É mais possível fazer no Brasil um torneio adequado às condições das principais ligas da Europa. Inferior à Premier League, mas próxima do Campeonato Espanhol em organização. Ser relevante.
Relevância não significa ter os principais jogadores do mundo, como Real Madrid e Barcelona, mas ter jogos importantes no cardápio das emissoras de TV da Europa.
Em fevereiro, o clássico Palmeiras x Santos foi transmitido ao vivo em toda a Inglaterra. Não é o único caso, mas o Brasil ainda entra na grade das emissoras europeias como complemento de grade de programação. O tratamento é diferente do que as emissoras brasileiras dão aos campeonatos inglês e espanhol.
O processo de internacionalização está mais próximo, mas ainda muito distante do que precisa acontecer.
A união dos 12 maiores clubes do Brasil revelada na reunião do Morumbi pode ser o embrião dessa mudança. Quem sabe para ter um Brasileirão de verdade.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade