É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
Muito além da invasão
Comitê de Preservação da Memória Corintiana | ||
Ex-presidente Vicente Matheus com a esposa, Marlene |
O Corinthians volta ao Maracanã pela primeira vez desde o confronto com a Polícia Militar, que deixou 40 detidos, no clássico contra o Flamengo, em outubro do ano passado.
Nestes últimos nove meses, houve a gestação de um novo período de violência, com tiroteios nos portões de dois estádios cariocas - Engenhão e São Januário - confusão em Goiânia e morte a dois quilômetros do Allianz Parque, em noite de torcida única para Palmeiras x Corinthians.
No retorno ao Maracanã, neste domingo, o Corinthians enfrenta o Fluminense.
Em 5 de dezembro de 1976, a praia de Copacabana amanheceu com corintianos deitados no calçadão e bandeiras pretas e brancas para fora das janelas dos carros, com placas amarelas em que se lia a inscrição São Paulo-SP.
Cinco dias antes do episódio conhecido como invasão corintiana, o Corinthians venceu o Santa Cruz no Recife e classificou-se para a semifinal do Brasileirão contra o Fluminense. No pé de uma matéria sobre a alegria dos torcedores pela vaga entre os quatro melhores times do país, a Folha publicou uma prévia do que aconteceria no fim de semana:
"Sensibilizado pela caravana de torcedores que foram ao Recife, Matheus pensa agora em ajudá-los na viagem ao Rio, para levar ao Maracanã um grande público corintiano. Prevê uma caravana de aproximadamente 300 ônibus, além de aviões, e está propenso tanto a colaborar não apenas na divisão das despesas dos ônibus, como até em despesas de hotéis."
O Matheus citado era, evidentemente, o histórico dirigente do Corinthians, Vicente Matheus, que já havia levado o presidente da Federação Paulista, Alfredo Metidieri, como convidado ao Recife, para a vitória sobre o Santa Cruz.
A invasão foi linda. Foram colocados à venda 170 mil ingressos, dos quais 146 mil foram vendidos. O domingo teve 33 voos de ponte aérea saindo de São Paulo para o Rio, com treze aviões extras. A Vasp tinha outros quatro voos fretados, três por agências de turismo.
Depois das 19h, a Central do Brasil disponibilizou dois vagões a mais do que o normal, para permitir a volta tranquila dos corintianos.
Uma operação acima dos padrões. Em parte, patrocinada pelo Corinthians.
Naquele Brasileirão de 1976, o Maracanã recebeu 39 partidas, com média de 8.453 pagantes por jogo.
Você leu certo: oito mil! Foi o ano de maior público médio num Campeonato Estadual em todos os tempos: 19 mil no Campeonato Carioca. No Brasileirão, o número de espectadores por partida foi de 17 mil, igual ao ano passado. Hoje são 15 mil, mas com crescimento em comparação com doze meses atrás.
A maior presença de torcedores, com 146 mil na semifinal do Brasileiro, foi calibrada pelo investimento de Vicente Matheus para tirar o Corinthians de uma seca de troféus que durava 22 anos.
A chance de ganhar o torneio nacional, a mobilização de torcedores do Corinthians no Recife, contra o Santa Cruz, tudo isso ajudou a levar uma multidão de corintianos para o Rio de Janeiro.
A invasão ficou na história, a festa foi linda, mas reler a cobertura da Folha daquela semana de 1976 torna inevitável notar que ali estava o embrião das relações promíscuas entre dirigentes e facções uniformizadas.
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