É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.
No Brasil, maiores escândalos de arbitragem estão ligados a apostas
Giorgio Perottino/Reuters | ||
Goleiro italiano Buffon já se envolveu em escândalo por causa de apostas |
Ronaldo é caixa de um estacionamento no Parque das Rosas, sub-bairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Todas as semanas, pede palpites dos mais variados jogos de futebol. Faz quase um ano. Às vezes tem jogo do Flamengo, do Corinthians, da Liga de Quito, do Peñarol, do Uruguai...
Paulinho também mora no Rio e dirige uma balsa que atravessa a Lagoa de Marapendi diariamente. Todas as semanas, preenche seu bilhete de loteria esportiva. Também pede palpites sempre que encontra alguém que julga entender de futebol.
A diferença entre os dois é que Ronaldo faz jogos oferecidos por bancas de jogo do bicho, como o repórter Sérgio Rangel mostrou em matéria da Folha, sexta-feira (18). E Paulinho faz jogos legais.
Também são legais os sites de apostas. Tem propaganda na televisão e tudo.
Site de apostas pode.
Banca de bicheiro não pode.
Todo mundo sabe onde tem casa de jogos ilegais, tanto na região da avenida Angélica, em São Paulo, quanto no caminho do recreio dos Bandeirantes, no Rio.
As pessoas gastam horas na frente do computador apostando no Cartola. Aqui há uma diferença. O Cartola é um jogo na internet, que não envolve dinheiro e deixa muita gente ligada em questões importantes do futebol.
Mas se você quiser fazer um grupo e jogar a dinheiro, pode...
Os dois maiores escândalos da arbitragem do Brasil estão ligadas aos jogos. Em 1982, a revista Placar desvendou a Máfia da Loteria Esportiva, rede de corrupção entre jogadores, técnicos e dirigentes para acertar
resultados das partidas que estavam nos cartões da loteria oficial, da Caixa Econômica Federal.
Em 2005, Edílson Pereira de Carvalho foi pego num esquema de manipulação de resultados, por causa de uma rede de apostas ilegais. Tanto o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, quanto o mentor do esquema, o empresário Nagib Fayad, estão soltos.
Só o doping contamina mais o esporte do que as apostas. Não é só no Brasil. A Itália já teve dois escândalos monstruosos, sem contar os periféricos. Em 1982, o Milan foi parar na Série B por envolvimento de seus jogadores e dirigentes no esquema das apostas na loteria esportiva. Em 2005, até o goleiro Gianluigi Buffon admitiu que participava de apostas.
Num caso paralelo de manipulação escalas de arbitragem, a Juventus foi rebaixada.
Não é só no Brasil, não é só no futebol, não é só com bicheiros. Há apostas em jogos de tênis, da NFL, da NBA, do futebol inglês, na Itália, no Rio, em São Paulo, com carimbo oficial dos governos, com anúncio de
sites em emissoras de televisão...
A CBF acaba de contratar uma empresa especializada em apostas ilegais, para tentar vigiar e evitar que se repitam escândalos como os do passado. Todo mundo é inocente até que prove o contrário. E se houver erro de algum árbitro, um frango de um goleiro, gol perdido por atacante, não pense que foi porque quis errar.
Eu vou lhe avisar... Goleiro não pode falhar...
Mas muita gente vai comemorar se o zagueiro do seu time entregar o ouro e deixar alguém na cara do gol para acertar os pontos no cartão que preencheu. Seja numa banca de jogo do bicho, seja num site oficial de apostas.
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