Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Doleiros e empreiteiros
No Brasil dos anos 80, a cotação do dólar "black" era divulgada pelos principais órgãos de imprensa e cidadãos honestos recorriam ao mercado paralelo para adquirir divisas.
Os doleiros praticavam uma atividade ilegal, mas não só eram aceitos pela sociedade como frequentavam os círculos mais elitizados: jogavam golfe na Gávea no Rio e nadavam no clube Pinheiros em São Paulo.
Hoje a situação parece absurda, mas era assim que as coisas funcionavam. Com o tempo, tudo mudou. O país evoluiu, estabilizou e o mercado negro de câmbio deixou de fazer sentido.
Muita gente das construtoras está reclamando do resultado da Operação Lava Jato com o mesmo argumento daquela época: por que investigar corrupção em contratos públicos se é assim que as coisas funcionam e todo mundo sabe disso?
O juiz Sérgio Moro, os delegados da Polícia Federal e os procuradores do Ministério Público estão fazendo história ao investigar, prender e indiciar alguns dos maiores empreiteiros do país.
Hoje estão na cadeia preventivamente e podem ir para o banco dos réus homens que com um telefonema seriam recebidos por qualquer prefeito, governador e presidente da República nas últimas décadas.
Não é mais ilusão pensar que, como os doleiros de antigamente, essas figuras vão perder poder, e, como o dólar "black", as "comissões" cobradas em obras públicas vão deixar de ser aceitas como inevitáveis.
Também é bem provável que empresários honestos se interessem em fazer negócios com o setor público no futuro já que não serão mais obrigados a pagar propina. Se tudo isso realmente ocorrer, será um avanço incrível para o Brasil.
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