Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
A Petrobras precisa largar seus vícios
A Petrobras está em um período de convalescença, que promete ser longo. Quem acompanhou de dentro o turbilhão que se formou por causa da Operação Lava Jato, garante que a companhia esteve muito, mas muito perto do desastre.
Para recordar: a estatal deixou de publicar seu balanço porque não conseguia apurar as perdas provocadas pela corrupção descoberta na Operação Lava Jato e, por conta disso, correu o risco de ter que pagar antecipadamente suas dívidas.
Se isso ocorresse, só havia dois caminhos: quebrar ou ser resgatada pelo Tesouro. A última alternativa era a mais provável, mas o Brasil perderia o grau de investimento e andaria –pelo menos– uns dez anos para trás.
Esse cenário apocalíptico foi afastado depois que a Petrobras reconheceu perdas de R$ 51 bilhões em corrupção e má gestão no balanço de 2014. É um quadro devastador, mas assumir o vício é o primeiro passo para a recuperação.
Aos poucos, a nova gestão da empresa está ganhando a confiança do mercado, mas ainda vai precisar mostrar que a estatal se livrou dos hábitos que a trouxeram à beira do precipício.
O principal desafio é praticar preços de mercado na venda de gasolina e diesel. Parece óbvio para uma petroleira, mas, nos últimos, o governo sangrou o caixa da estatal para segurar a inflação.
O resultado é um rombo que a empresa não consegue mais suportar. Se não praticar preços de mercado, a Petrobras não terá receita suficiente para pagar sua dívida bilionária. A conta não fecha.
A nova diretoria vem dando reiterados sinais de que vai seguir as variações do petróleo no mercado internacional, mas sabe que só promessas não serão suficientes. O mercado só vai se convencer quando os primeiros reajustes vierem.
Esse, no entanto, é só o problema mais urgente. Há vários outros vícios difíceis de largar: corrupção nos mais diversos níveis, arrogância no trato com fornecedores, clientes, investidores, bancos, imprensa e etc, além de uma estrutura inchada com mais de 400 mil funcionários.
Reportagem desta Folha mostrou que só na área de comunicação a empresa tem inacreditáveis 1.146 pessoas....
O caminho da recuperação é longo e difícil e todos nós esperamos que a Petrobras não se desvie na primeira adversidade. Ou, pior ainda, que o ex-viciado acredite que pode voltar a tomar um trago depois que as coisas começarem a melhorar.
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