Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Dilma lavou as mãos
A presidente Dilma Rousseff agora tenta remendar seu erro, mas ela sabia o que estava por vir quando mandou um orçamento deficitário ao Congresso.
A agência de classificação de risco Standard & Poor's é clara em seu comunicado ao atribuir a "falta de habilidade e de vontade do governo de submeter um orçamento coerente com a mudança de rumo da política fiscal no segundo mandato".
Agora Dilma pode tentar voltar atrás, prometer um superávit de 0,7% do PIB, bradar que vai cortar gastos e elevar impostos... Pouco adianta. Ela já perdeu o benefício da dúvida que conquistou ao colocar Joaquim Levy na Fazenda.
Sem apoio no Congresso para aprovar as mudanças necessárias, não dá para negar que a presidente tinha que fazer uma dura escolha.
Dilma tinha R$$ 250 bilhões de gastos discricionários (que podem se reduzidos pelo governo com uma canetada). Para zerar o déficit, precisava cortar R$ 30 bilhões.
Esse dinheiro está distribuído entre educação (R$ 34,8 bilhões), saúde (R$ 90,8 bilhões), programas sociais (R$ 32,4 bilhões), PAC (R$ 42 bilhões), etc.
Ela preferiu não cortar nada e lavou as mãos. Só que não é isso que se espera do líder de um país. Presidentes precisam tomar decisões difíceis.
Alguns podem argumentar que temos que manter os gastos sociais e dar as costas para o mercado. Mas quem diz isso ignora leis básicas da economia: o dólar vai subir, os juros vão aumentar, a economia vai ficar ainda mais fraca, o desemprego sobe.
Em resumo, a vida da população mais pobre, que o governo tenta proteger, fica ainda mais difícil.
A culpa, no entanto, não é só da presidente. O Congresso ignorou os apelos de Levy para fazer os cortes nos gastos que realmente importam.
Basta lembrar que o país despende R$ 252 bilhões em pagamento de servidores públicos ativos e inativos e R$ 491 bilhões em previdência social para sustentar um Estado inchado. É esse o país que queremos ter?
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