Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
A hora de Levy pedir demissão
Com a decisão da Fitch de retirar o selo de bom pagador, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, perde sua derradeira batalha e qualquer razão para ficar no cargo.
Já está claro para os investidores que Levy não consegue convencer a chefe de que é preciso garantir a sustentabilidade fiscal para que o setor privado retome a confiança no Brasil e volte a investir.
Alan Marques - 6.out.2015/Folhapress | ||
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy |
Parece que a Fitch esperou apenas Dilma abandonar de vez o compromisso com arrumar as contas públicas. A presidente decidiu ontem que a meta superávit primário de 2016 vai cair de 0,7% para 0,5% ou até zero.
Agora o Brasil fica sem o aval de duas agências de risco - a S&P já havia cortado a nota do país - e volta a ser oficialmente um investimento especulativo. Isso significa dólar mais caro, menor poder de compra da população, mais inflação e menos investimento.
Depois de prometer uma reviravolta de 180 graus na sua política econômica, comprometendo-se com um ajuste fiscal, a presidente não aguentou a pressão. A queda de quase 4% do PIB e a ameaça de impeachment a fizeram desistir no meio do caminho.
Ela volta a seguir a mesma cartilha de aumentar os gastos do Estado, com mais investimento público e benesses sociais, para barrar a recessão. Só que, ao contrário do primeiro mandato, o Tesouro está depauperado e ela não tem instrumentos para fazer isso.
Na verdade, ela nunca comungou das crenças de seu ministro da Fazenda e, por isso, agia a contragosto. Não adianta trazer outro ministro da Fazenda ortodoxo. Dilma continua sendo a chefe da política econômica como sempre foi.
Ela culpa o cenário internacional pelos problemas do país e ignora todas as evidências de que sua política econômica desenvolvimentista fracassou. Por conta de sua teimosia, a recessão será ainda mais dura e prolongada do se imaginava.
Alguns amigos próximos dizem que Levy nunca deveria ter aceitado o cargo. Ele deve ter chegado à mesma conclusão. Dilma pede agora tempo para fazer uma transição tranquila.
Com sua habitual dificuldade em tomar decisões, a presidente transforma seu ministro em um "cadáver insepulto" como já fez com vários outros.
Basta lembrar a situação do antecessor, Guido Mantega, que foi demitido pela impressa no meio da campanha e permaneceu meses a fio largado no cargo, mas fiel ao partido. Levy não tem esse compromisso e não deveria cair na mesma cilada.
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