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raul juste lores

 

24/10/2012 - 07h07

Vamos falar de segurança?

DE SÃO PAULO

A morte da garota de 15 anos por causa de um celular em Higienópolis já foi reduzida ao embate preguiçoso.

Moradores querem chumbo grosso e elegem os coroneis e xerifes "linha-dura" que não conseguem resolver a violência; mas os bem-pensantes paulistanos, que avacalham com os reacionários em questão, não parecem se chocar tanto com a morte da menina (e tampouco cobram soluções profissionais para o problema de segurança).

Os dois lados são responsáveis pela eleição de telhadas e afins.

No ano passado, ocorreram 160 mil roubos na cidade de São Paulo. Foram instauradas menos de 10 mil investigações. Casos esclarecidos? Menos de 7 mil. Como assim?

Boa parte da Polícia Civil paulista não é informatizada, como qualquer um já descobriu ao fazer um B.O. Existe a figura do escrivão, daqueles enormes livros, da repartição pública dos anos 50. Perguntas que poderiam indicar padrões dos assaltos e servir para analisar as circunstâncias não são feitas. Mas é a Polícia Civil que precisa investigar os casos.

Sem estatísticas, como fazer o diagnóstico? Sem cruzar dados, como a Polícia Civil vai saber exatamente em que hora do dia acontecem mais roubos, em que dia da semana, em que tipo de rua ou calçada, quantos assaltantes em média, a idade deles, o comportamento, aonde vão após o assalto?

Não dá para criar uma patrulha inteligente sem dados que apontem os pontos fracos no policiamento e evitem o desperdício de viaturas. Em tempos de indexadores e Google Maps, fazemos de conta que criminalidade não é algo tão importante e tratamos com as mesmas armas de 50 anos atrás.

Sabemos que delegacias têm a maior taxa de esclarecimento? Quais as menos eficientes, que não estão nem aí? Como premiar o bom trabalho sem esses parâmetros?

Em Nova York, onde a criminalidade caiu 60% na última década, há até um Real time crime center, que identifica padrões e como os crimes se repetem. Tudo é informatizado e estudado. Todas as modalidades caíram porque os estudos e investimentos das circunstâncias serviram para combater do latrocínio ao furto de carro e ao homicídio.

Há muita gente estudando violência, da USP e UFRJ ao Sou da Paz. As viagens de especialistas brasileiros a Nova York se repetem há 15 anos. Eles são ouvidos?

Os tucanos, que estão há 20 anos no poder, têm muito a explicar sobre Polícia Civil. Queda de homicídios se comemora, mas todos os outros crimes continuam nas alturas. A última frase de Alckmin, reaproveitada pelo assassino da garota de Higienópolis, sobre "quem não reagiu, está vivo", vai para a história do retrocesso paulista.

O governo federal ultimamente só investe na construção de presídios (pouco se ouve sobre reinserção dos presos). O Programa Nacional de Segurança e Cidadania, ainda da gestão Tarso Genro, foi congelado por Dilma, mas nada foi colocado em seu lugar. Essa é a política de segurança do PT? Quando o desemprego caísse e a renda subisse, a criminalidade não iria cair por mágica?

E o Congresso, quando vai discutir a unificação das polícias? Não faz sentido que PM e a Civil sejam separadas e passem mais tempo brigando entre si do que tendo uma única polícia que patrulhasse e investigasse os crimes. Um processo do início ao fim.

Mas a turma da bala e os bem-pensantes acham esse assunto de profissionalizar polícias uma chatice. Sem pressão da sociedade civil, dos partidos e da imprensa, dos empresários que financiam as campanhas, será difícil que algo mude. Já nos acostumamos que adolescentes levem bala na cabeça na hora de entregar um celular.

raul juste lores

O jornalista Raul Juste Lores é correspondente da Folha em Washington,
ex-correspondente em Nova York, Pequim e Buenos Aires e ex-editor
do caderno 'Mercado', e bolsista da fundação Eisenhower Fellowships. Escreve às quartas-feiras no site. Siga: @rauljustelores

 

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