Reinaldo Figueiredo é humorista e cartunista brasileiro, conhecido por integrar a equipe do 'Casseta & Planeta', na TV Globo. Escreve às quartas.
Reconceituando o branding
Em tempos de Copa do Mundo, o Brasil tem 207 milhões de técnicos de futebol, e em tempos de eleição o Brasil tem 207 milhões de marqueteiros. O ano de 2018 nem começou, mas os milhões de técnicos de futebol e marqueteiros já estão em ação.
E, assim como o futebol, o marketing eleitoral também é uma caixinha de surpresas. Pude ver isso de perto, em mais uma reunião da AALCRF (Associação dos Amigos e Leitores da Coluna do Reinaldo Figueiredo). Como todo mundo sabe, o pessoal da entidade está me pressionando para que eu lance minha candidatura à Presidência da República.
Mas eu ainda não dei o OK. Chegando lá, me deram duas notícias, uma ruim e uma boa. A ruim é que eles não vão aceitar um "não" como resposta, e a boa é que desistiram de lançar a minha candidatura como "Devagar Franco".
Na verdade, essa foi uma ótima notícia, porque eu não estava a fim de encarar uma campanha eleitoral usando aquele topete e falando o tempo todo com sotaque de caipira mineiro. Ninguém merece.
Fiquei sabendo que Carlinhos, o presidente da associação, tinha pedido ao cunhado dele, que é bom em matemática, para fazer uma rápida pré-pesquisa de opinião pública no centro da cidade, onde circulam eleitores de várias classes sociais e faixas etárias. O resultado da pré-pesquisa foi o seguinte:
Reinaldo Figueiredo/Folhapress |
Reinaldo Figueiredo de 22.nov.2017 |
Se a eleição fosse hoje, você votaria em:
Lula: 0%
Bolsonaro: 0%
Doria: 0%
Huck: 0%
Marina: 0%
Joaquim: 0%
Devagar Franco: 0,4%
Indecisos: 3,9%
Não responderam: 9,4%
Não responderam e mostraram o dedo médio para o pesquisador: 86,3%
Com essa pesquisa em mãos, meus marqueteiros chegaram à conclusão de que o nome "Devagar Franco", apesar de ter alguma simpatia do eleitorado, ainda está muito associado à velha política. Carlinhos me explicou que deveríamos mudar a estratégia.
"Temos que reconceituar o branding da candidatura, quer dizer, dar uma guaribada na sua marca, porque a tendência agora é o candidato outsider. Vamos registrar o candidato "Reinaldo do Jazz". Mais outsider que isso é impossível! E, além do mais, este approach vai atingir o eleitor mais sofisticado", ele disse.
Saquei que, com essa estratégia de marketing eleitoral, eles estavam tentando atrair meu interesse para a causa, mas, ainda assim, eu disse que precisava pensar melhor no assunto.
Quanto ao problema de encontrar um partido para lançar a candidatura, a Dona Neusa tinha ficado com a tarefa de comprar um na promoção da Black Friday, mas ela disse que chegou atrasada, já na hora da xepa, e que só tinham sobrado uns partidos muito estragados e impróprios para o consumo. "Tudo bem que a política é a arte do possível," ela disse, " mas assim também não é possível!"
Como diria o técnico de futebol e comunista João Saldanha: "Vida que segue".
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