Na Folha, foi editor de "Opinião", da Primeira Página, editor-adjunto de "Mundo", secretário-assistente de Redação e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras funções.
O teste do 1° de Maio
Faz muito tempo que o 1º de Maio, originalmente Dia dos Trabalhadores, vem sendo esvaziado de conteúdo. A começar do nome. Virou "Dia do Trabalho", como a celebrar uma unidade social fictícia, sobretudo em países como o Brasil.
A desidratação nem sempre deu certo, a depender da conjuntura. Nos últimos anos, porém, a coisa tem pendido mais para piqueniques e sorteios do que para manifestações reivindicativas. Não que estas tenham deixado de existir. A culpa é de um movimento sindical perigosamente adaptado a conveniências do poder e soluções palacianas.
Em 2015 a conversa pode ser outra. Os ataques a direitos trabalhistas encontram-se num ponto de fervura. Medidas como o projeto de lei da terceirização ameaçam conquistas históricas; o ajuste fiscal de Levy bate de frente com as necessidades de qualquer trabalhador –empregado ou desempregado.
Verdade que o PL 4330 passou em duas votações da Câmara. Mas foram instantes bem diferentes. No primeiro, massacre no placar –324 a 137. Já no segundo turno, a vantagem encolheu para míseros 27 votos.
Pesou nisso uma grita geral por parte de sindicatos, movimentos sociais e setores da cúpula da Justiça do Trabalho. Um dos veredictos mais contundentes veio de Patrícia Ramos, presidente da associação dos magistrados da área em SP. Para ela, o projeto cria "carcaças de empresas", em que o "empregado continuará com as mesmas obrigações; em contrapartida, seus direitos serão reduzidos". Simples assim.
Juntando as querelas entre Eduardo Cunha e Renan Calheiros, mais o bate-cabeça dos tucanos em torno de um impeachment nefelibata, o quadro mostra-se favorável a uma nova hibernação do projeto. Ilusório dispensar, contudo, o fator decisivo da pressão popular. A tramitação até agora provou a existência de vida fora do parlamento e seu "Cunha party".
O 1° de Maio será um teste importante. Alguns já escolheram o lado, entre eles Paulinho da Força. Entusiasta da terceirização, transformou a central que comanda em guichê secundário da Fiesp. Um papelão. Seu partido, o Solidariedade, é uma caricatura mesmo nas trapalhadas. Um de seus ex-deputados, Luiz Argôlo, acaba de dar sua contribuição ao vocabulário dos escândalos com a farra do Transbaião –desvio de dinheiro público para promover festas juninas.
É o caso de saber como ficará o PT nesta história toda. Enrolado com a Lava Jato e a aplicação de medidas econômicas impopulares, o governo Dilma dá sinais de que vai travar o projeto. Detalhe: só sinais por enquanto. Já os petistas têm ensaiado uma reação pela sobrevivência da legenda. Será didático observar como o partido resolverá a equação de, numa faixa defender direitos trabalhistas históricos e, na outra, um programa de arrocho econômico. O muro já tem dono faz tempo.
MÃOS QUE NÃO SE LAVAM
Não cabe dúvida: o PT tem pesadas contas a ajustar no escândalo da Petrobras, assim como multiplicam-se evidências de que muitas das práticas do partido exibem impressões digitais antigas. Em seu périplo de entrevistas, FHC acusa os petistas de achar que o Brasil nasceu com eles. Há que dar ao ex-presidente alguma razão: a manchete da Folha deste domingo e depoimentos da Lava Jato testemunham que certas coisas começaram muito antes, e deixaram penas pelo caminho.
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