Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

rita siza

 

13/08/2012 - 09h28

Dez coisas que o Rio 2016 pode aprender com Londres 2012

DE SÃO PAULO

Agora que a bandeira olímpica já está nas mãos do Brasil, e a festa acabou em Londres, aqui ficam, das minhas observações, dez lições que o Rio de Janeiro pode retirar do sucesso da organização da capital britânica.

Transportes: Temia-se um pesadelo de proporções épicas em Londres, mas ao contrário das previsões pessimistas, circular em Londres revelou-se fácil e até relativamente tranquilo. Fundamental é manter o pessoal em movimento - por todos os meios possíveis.

Ingressos: Depois de tantas dores de cabeça na venda de ingressos, os Jogos de Londres arrancaram com milhares de lugares desocupados nos vários recintos. A responsabilidade não será tanto do Brasil como do Comité Olímpico Internacional, mas convinha acertar um novo sistema de venda e atribuição de ingressos para a olimpíada do Rio de Janeiro.

Mascote: Um amigo meu viveu obcecado com o Wenlock, a mascote dos Jogos de Londres, misteriosamente ausente no parque olímpico. As pessoas gostam de fazer fotografias abraçadas à mascote, mas no caso do Wenlock foi difícil encontrá-lo. O Rio ainda não escolheu a sua mascote, por isso aqui ficam duas recomendações: que não seja tão traumatizante para as criancinhas e que possa ser visto a passear na altura dos Jogos.

Chama olímpica: À falta de uma mascote para as fotografias, só sobrava um outro "elemento" para quem quis guardar para a posteridade a visita ao parque olímpico de Stratford: as cinco argolas coloridas entrelaçadas. O outro lamento dos visitantes de Londres foi o fato de não verem a chama olímpica a partir do exterior do estádio. Mas se esse foi um aspecto negativo, um positivo que o Brasil pode tentar replicar teve a ver com o percurso da chama olímpica pelo país, que prendeu a atenção da população e criou uma atmosfera de entusiasmo antes do arranque da competição.

Parque olímpico: O recinto funcionou como o de uma gigantesca feira popular, com milhões de pessoas (2,4 milhões, para ser mais precisa) ora distribuídas por espaços distintos, ora congregadas numa série de zonas comuns - de lazer, compras, alimentação e uns impressionantes e sempre limpos sanitários - durante horas e horas, num ambiente fluído de descontracção. Melhoramentos para o Rio podiam ser mais zonas cobertas (em Londres fizeram falta quando choveu, mas também quando foi preciso buscar sombra) e mais actividades ou entretenimento para quem não vai entrar em nenhum dos pavilhões ou está à espera da abertura das portas.

Atletas: Para mim, uma das surpresas de Londres foi a boa-vontade e naturalidade dos atletas britânicos no contacto com a mídia (e também o público), sempre disponíveis para comparecer em entrevistas e de modo geral impecavelmente claros, simples e articulados nas suas declarações, explicações e comentários. Na minha opinião, fez bem a BBC em reunir uma colecção de ex-atletas olímpicos para fazer o comentário televisivo, elevando muito o interesse em assistir na televisão.

Medalhas: Um desafio para o Brasil será formar atletas a tempo de aumentar consideravelmente o número de medalhas. Em Londres, houve uma diferença clara e nítida dos momentos pré e pós medalhas: o fervor olímpico só começou verdadeiramente a manifestar-se depois do Team GB arrecadar o primeiro ouro - e a partir daí a onda de alegria e celebração foi imparável.

Personalidades: Não vai ser fácil para o prefeito Eduardo Paes suplantar o desempenho do mayor de Londres Boris Johnson - duvido que Paes ou seja quem for esteja disposto a pendurar-se nos cabos do bondinho do Pão de Açúcar para imitar o britânico maluco... Mas é verdade que os Jogos precisam de ter um ou mais rostos que o público possa imediatamente identificar e associar à promoção do evento esportivo - no caso de Londres, salientaram-se o presidente do comité organizador Seb Coe e os atletas Jessica Ennis e Chris Hoy.

Programa: Londres aproveitou o balanço dos Jogos Olímpicos para promover a sua cultura, tecnologia, história e economia. Da mesma maneira, o Rio deve usar o mesmo pretexto para estabelecer um programa paralelo que funcione como uma celebração do Brasil e que possa envolver todo o país.

Tema: A organização de Londres apostou no tema do legado. "Inspirar uma geração" era o que Londres se propunha fazer nesta olimpíada, e não estou incluída no grupo dos cépticos que dizem já hoje que foi só um chavão inconsequente: várias pessoas com quem falei diziam-se animadas a experimentar uma nova actividade ou encaravam levar os filhos aos clube esportivo local.

Para o consumo internacional, Londres decidiu promover o tema da sustentabilidade. E por força das circunstâncias, acabou por ver outros temas aparecerem, como por exemplo o da inclusão das mulheres, uma vez todos os países apresentaram, pela primeira vez, atletas de ambos os sexos.

O Rio certamente estará a pensar qual a causa politicamente correta que lhe interessará promover - e espero que tenha também a sorte de se distinguir como mais um momento de evolução, transparência, equilíbrio e igualdade da nossa sociedade global.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página