Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
Buscar novidade em lançamento da Apple é procurar no lugar errado
SÃO PAULO - No longínquo 2002, na distante Coreia do Sul, enquanto a seleção arrancava para o penta, o metrô de Seul circulava tomado por pessoas interagindo em silêncio com os celulares. Novidade para quem chegava de fora, a cena indicava quanto o país, hoje o de maior penetração de smartphones no mundo, ia à frente do tempo.
A revolução mobile pelo mundo só decolaria para valer depois do lançamento do iPhone, cinco anos mais tarde. Com botão único e teclado incorporado à tela, ele embaralhou interface e conteúdo.
Com o lançamento desta quarta (7), o iPhone entra em sua décima temporada com mais e mais dúvidas sobre a capacidade de inovar da Apple —impulsionada pelo aparelho, ela tornou-se a empresa de capital aberto mais valiosa do planeta.
Não é simples distinguir de pronto o que é uma inovação importante; basta revisitar a cobertura do primeiro iPhone para perceber isso. Pelo retrovisor fica fácil listar tecnologias que mudaram as coisas, como os microprocessadores (anos 70), a área de trabalho amigável (anos 80), a web (anos 90), os smartphones e as redes sociais (anos 2000).
Quem olha para os lançamentos da Apple procurando inovação pode estar procurando no lugar errado, daí a decepção frequente. A revolução não necessariamente será anunciada em eventos teatrais promovidos por empresas gigantescas.
Se o iPhone juntou conteúdo e interface, quem está em risco agora é o próprio conceito de interface. A interação entre humanos e conteúdo já é cada vez mais fluida e automatizada: informações transmitidas por máquinas como numa conversa, compras disparadas sem o pedido do dono e controle sobre a vida da pessoa executado por robôs (por exemplo, registro dos deslocamentos de uma pessoa dia a dia). Tem pinta de evolução incremental, mas é na verdade uma revolução silenciosa, que não aparece na prateleira.
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